Entrou em vigor no último sábado (1º) um aumento de 50% do gás natural definido pela Petrobras, que argumenta com elevação dos custos e falta de oferta mundial do produto. Aqui no Rio Grande do Sul, o reajuste deve ficar abaixo dos 40%, um valor elevado com impacto tanto para consumidores como para empresas. A coluna conversou no Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com Edilson Deitos, coordenador do grupo temático de Energia e Telecomunicações do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Confira:
Impacto forte, não?
O que nós temos que ver é um contexto mundial do abastecimento do gás natural. Esse desequilíbrio provocado pela Rússia no abastecimento do gás natural para Europa levou a um certo desequilíbrio nos preços, e a própria Petrobras alega que o preço da molécula no mercado internacional subiu mais de 500%. Coincidiu que o Brasil está abrindo para o mercado livre do gás natural. E a dificuldade de abastecimento, porque a alternativa das distribuidoras viria do gás natural liquefeito, que é transportado via navios para os terminais já instalados no Brasil, e alguns em instalação, como em Santa Catarina e provavelmente agora no nosso porto em Rio Grande. Ocorre que esses fornecedores de gás natural liquefeito se direcionaram ao fornecimento de gás para a Europa, em função até do inverno, e os preços internacionais disparam. Menos de 10% do mercado está sendo abastecido por outros fornecedores que não a Petrobras. São Knorr, Galp, Petro Recôncavo e Shell, mas é um mercado que está iniciando agora.
Como é o impacto na indústria desses 40% que devem vir agora, de uma vez só?
A informação que nós que nós temos é de que os 50% de aumento na molécula irá representar para o setor industrial na faixa de 22% a 29%. Ainda não está definido qual é o percentual.
O que é alto, ainda assim.
É elevadíssimo, né? Mas se nós olharmos no contexto internacional de todos os combustíveis, de toda a energia a nível mundial, seja por escassez hídrica, o mundo todo está enfrentando essa crise de custos elevadíssimos de todas as fontes energéticas. E o Rio Grande do Sul está enfrentando um momento de transição, porque a Sulgás acabou de entregar para a empresa à Compass. Então, temos que ter o posicionamento da nova distribuidora e também o posicionamento da Agergs, que está iniciando a atuar no mercado de regulação do gás nesse momento. Vários Estados entraram com mandados judiciais suspendendo os aumentos. Santa Catarina, Rio de Janeiro... Ou foram as distribuidoras, ou foram entidades que entraram. Nós estamos analisando esses pedidos, é óbvio que vamos apoiar, mas também temos que entender que o gás natural é uma commodity internacional.
E a questão do aumento da conta de luz, de 30%, também é uma situação nacional. Como as indústrias têm lidado com esse aumento da luz, do gás natural, do diesel....
É uma questão de mercado. Você não tem muito para onde correr. Acho que nós pagamos um preço elevado de energia em um momento de escassez hídrica, acionando as termoelétricas. Não tivemos o problema do racionamento, e o clima agora está ajudando até em excesso com as enchentes, mas está chovendo na região de que nós precisávamos, onde tem a maior geração, que é a região Sudeste e Centro-Oeste. Mas, realmente é um impacto, e o reflexo da inflação hoje basicamente tem um peso elevado do setor energético. Em todos os setores, principalmente os setores eletrointensivos, como o setor metal mecânico, o setor da indústria petroquímica, que sofre.
Comprar do mercado livre de energia ou apostar em geração de energia solar tem ajudado?
O mercado livre vem crescendo de forma exponencial. Hoje, empresas com demanda superior a 500 megawatts de potência podem migrar para o mercado livre. O setor de geração própria, autogeração, que seria solar, ainda o custo é muito elevado para a indústria, que tem direito de se creditar dos impostos, ICMS e do PIS/Cofins. Então, a conta para o setor industrial hoje ultrapassa 10 anos do retorno sobre o investimento, exceto para microempresas, que o retorno é muito rápido, para o comércio e, logicamente, para o setor residencial. Mas a nossa preocupação também é que com todos esses incentivos. Quem paga a conta são os consumidores que estão no mercado cativo.
Ouça a entrevista para o programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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