Pequenos e médios lojistas e restaurantes procuram a coluna relatando dificuldade para conseguir crédito. Sabe-se que há várias linhas que a coluna noticia com frequência, mas nem todas se encaixam no perfil ou na situação da empresa. Pensando nisso, o programa Acerto de Contas (domingos, 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com Leany Lemos, presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, o BRDE, para saber sobre as modalidades de financiamento que o banco oferece. Confira:
Quais linhas de crédito estão disponíveis? O que temos de perspectiva?
O BRDE é um banco de projeto, de desenvolvimento, de fomento. Então, a grande especialidade do BRDE é a análise e financiamento de grandes projetos, que tenham impacto, gerem emprego, renda nos três Estados do Sul. Embora sejamos um banco de projetos, a nossa missão é impactar e gerar o desenvolvimento social e econômico da Região Sul e apoiar a política pública. Então, obviamente que, dentro dessa missão, temos também muitos contratos e financiamentos com micro, pequenas e médias empresas. Não é o nosso forte, como agronegócio e indústria. Mas o que aconteceu com a pandemia? O impacto foi muito grande nos menores. Então, o BRDE fez um programa, no ano passado, com recursos próprios, já que ele trabalhava como repassador do governo federal e do BNDES. Até 2015, era só repassador, e, então, teve uma diversificação dos fundings do BRDE, o que foi muito positivo. Até manteve a possibilidade de continuarmos emprestando um pouco mais de R$ 3 bilhões por ano, que foi o que a gente contratou ano passado. Se hoje fossemos só repassadores do BNDES, faríamos pouco mais da metade disso. Então, foi muito importante essa diversificação. Operamos recursos do governo federal, do BNDES como repassador, Caixa Econômica, Fungetur, que é um dos federais, Funcafé... Também captamos recursos internacionais. Então, hoje, temos na nossa carteira, fundings da Agência Francesa de Desenvolvimento, do Banco Europeu de Investimento e da CAF. Contratamos sem garantia soberana. Agora, estamos em outra esteira, já contratando operações com o Banco Mundial, com BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), com NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), e iniciamos conversas com outros multilaterais, organizações internacionais de desenvolvimento. Captamos internacionalmente e estamos começando a ir a mercado. Esse ano foi feita a primeira emissão de RDB (Recibos de depósito bancário) do BRDE, em um piloto. Por quê? Porque o grande desafio é conseguirmos manter os níveis ou aumentar a disponibilidade de recursos para quem quer investir. Então, como esse é um grande desafio, estamos sempre olhando as opções e o banco fez muito nos últimos cinco anos. Eu, quando cheguei ao banco em dezembro, fiquei muito bem impressionada com essa mudança de perfil que ele está fazendo, que é na direção correta. Com a pandemia, resolvemos criar esse programa que é o Recupera Sul, em que se pode utilizar recursos próprios do banco para investimento e também para capital de giro, que antes não se usava. Então, primeiro: recurso do banco que não se usava antes. Segundo: para capital de giro, o que antes não se fazia. A não ser quando era associado com algum investimento. Mas 80% do capital de giro? Isso não tinha. Então, passou a ser feito. E qual a outra mudança para ajudar as economias locais? Foi justamente diminuir o tíquete de operação. O banco é super enxuto, não temos nem agência. Não é como o Banrisul, que é um banco comercial, de varejo. Temos só escritório em cada Capital (da Região Sul) e algumas representações, mas não temos aquelas agências em todas as cidades.
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O tíquete de operação seria o valor a ser tomado no empréstimo?
Exato. Um valor médio. Cada agência trabalhava com um mínimo de R$ 800 mil e R$ 1 milhão. Era o mínimo do tamanho da operação a ser realizada. Na pandemia e com esse programa do Recupera Sul, que é com recursos próprios, se reduziu para R$ 200 mil. Então, teve redução, se podia utilizar para capital de giro e uma carência, que era de dois anos, mais cinco anos para amortização. Então, era até um programa melhor do que o Pronampe (programa nacional de crédito para micro e pequenas empresas). A nossa carência era maior porque sabíamos que não seria tão rápido (sair da crise). Então, essa foi a mudança em abril do ano passado. Em 2021, foram disponibilizados R$ 900 milhões para os três Estados, ou seja, R$ 300 milhões para cada um.
No Recupera Sul?
No Recupera Sul, nós já executamos R$ 298 milhões. Praticamente, já não tem mais recurso disponível do programa, mas claro que somos um fundo. Então, tem gente que já está fazendo amortização, que está pagando. Então, tem recurso sendo reutilizado. Mas, foi, realmente, muito importante. Foram centenas de contratos realizados. Pessoal brinca no banco, pois falei logo que cheguei: "gente, como é que tá aí a coisa? Cês tão ajudando o pessoal aqui?" Eles disseram: "Olha, a gente fez para todos os restaurantes do centro de Porto Alegre". Estava todo mundo precisando de capital de giro, né?
O pessoal estava tomando empréstimo desse tamanho?
Sim. Acima de R$ 200 mil, estávamos operando. Você tem folha, tem impostos, tem obrigações. Para você manter emprego, manter o negócio, é caro. Uma pequena empresa fatura em um ano até R$ 4,8 milhões ano, né? O nosso limite de operação é de 20% da receita canal bruta do exercício anterior. Daí, já é R$ 1 milhão de limite de uma pequena, dependendo das condições e das garantias. Em 2021, com a extensão da pandemia, tivemos uma demanda do governo. O governador Eduardo Leite me falou: "olha, você vai chegar lá, a gente precisa fazer alguma coisa para o setor da economia criativa, o pessoal da cultura, o pessoal da gastronomia". E aí, fizemos um programa que é só Rio Grande Sul. É um piloto porque fizemos muito rápido. Em três semanas, colocamos de pé uma linha que atendemos na agência, hoje, acima de R$ 50 mil para a economia criativa. Se for uma uma lojinha de têxtil, não atendemos, porque tem o Recupera Sul acima de R$ 200 mil. Mas, se for um bistrô, uma banda, uma empresa de eventos, atendemos acima de R$ 50 mil. Isso até acabou criando uma demanda muito grande, mas conseguimos já contratar mais de R$ 13,5 milhões da economia criativa do ano passado para cá.
E essas linhas, elas continuam disponíveis?
Continuam. A pessoa nem precisa ir até a agência, só entra no site e faz uma operação de crédito. Acima de R$ 200 mil, operamos sem outras restrições. E, quando é para a economia criativa, temos um tíquete menor. É óbvio que a grande parte dos negócios gostaria desse valor menor, né? Só que não temos condições operacionais. Então, por enquanto, é só para economia criativa. O que que chega muito e deve chegar pra você também: operações menores do que isso, de R$ 20 mil, até de R$ 1 mil... porque realmente falta crédito no mercado. É algo que temos que prestar muita atenção, porque precisa de políticas públicas e de instituições trabalhando, mas tem um limite que não conseguimos diretamente. Abaixo de R$ 50 mil, operamos como banco de segundo piso. Emprestamos para as cooperativas e elas chegam até o cliente, como Cresol, Sicredi e SICOOB. São os nossos repassadores, mas têm suas taxas e avaliações. A avaliação é muito rápida. Em 30 dias, liberam o crédito, porque tem fundo garantido ou enfrentam o risco. Estamos trabalhando, inclusive, para aumentar o funding para essas cooperativas. Devemos aprovar, nos próximos dias, até um crédito para uma das cooperativas ter mais recursos para operar. Uma outra frustração, sabemos, é que o sistema é muito regulamentado. Não podemos emprestar em algumas situações, como quando a empresa está devendo em banco ou impostos. Também existe uma frustração daquele que está com todas suas garantias presas em um banco e quer mais crédito, mas não podemos. Há normas. Temos sido muito flexíveis, foi criada uma forma mais simples de avaliação, o formulário tradicional foi reduzido no Recupera Sul, mas temos normas a serem seguidas. Sabemos que há empresas que a pandemia pegou em um mau momento. Olhamos elas desde 2017, 2018, e já não estavam bem.
Tem alguma perspectiva de novas linhas de crédito?
Temos, para 2021, a estimativa de contratação de R$ 1,05 bilhão só para o Rio Grande do Sul. É um pouco mais de R$ 3 bilhões para os três Estados. Nós já contratamos um terço disso. Temos recursos até o final do ano, obviamente distribuídos em setores tradicionais, como o agronegócio. Mas o que tem de novo? Nós estamos captando duas operações de crédito, uma de US$ 100 milhões e outra de US$ 50 milhões com o BID. Não são linhas, são fundings que vamos usar nas linhas tradicionais. Poderemos usar no Recupera Sul e para a mitigação da pandemia. São US$ 150 milhões para os três Estados, o que vai dar cerca de R$ 900 milhões, ou seja, R$ 300 milhões para cada um. É uma linha que pode ir para prefeitura, para empresas micro, pequenas e médias também, para infraestrutura social... Poderemos financiar escola, hospital... Esses recursos estão em fase de captação. Estamos contratando com garantia soberana. Então, depois de aprovada na Assembleia, vai para o Tesouro Nacional, tem que ser aprovada pelo Senado. Estamos fazendo cronograma para o segundo semestre deste ano. Teve também 15 milhões de euros de recurso novo que já está dentro das linhas que estamos operando.
Ouça também no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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