A crise econômica causada pela pandemia de coronavírus foi global. Mesmo assim, há um entendimento que, de acordo com suas políticas e sua faixa de desenvolvimento, alguns países terão recuperação mais rápida do que outros. Ao mesmo tempo, o cenário de juro reduzido no Brasil para amenizar a crise econômica acaba por corroer a rentabilidade de aplicações financeiras. O cenário tem empurrado brasileiros para aplicações financeiras fora do país.
Dados do Banco Central mostram forte crescimento no investimento em fundos e em ações de outros países. De janeiro a maio, brasileiros destinaram US$ 3,452 bilhões para fundos no exterior, contra US$ 791 milhões do mesmo período do ano passado. As aplicações em ações deram um salto ainda maior, somando US$ 707 milhões, o que supera em 10 vezes o montante dos primeiros cinco meses de 2019.
De olho neste cenário, as empresas de investimentos também passaram a oferecer os investimentos no exterior para os clientes com mais frequência. Pensando nisso, o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com a planejadora financeira Leticia Camargo (confira entrevista abaixo), que considera uma boa opção para diversificar os investimentos, o que protege o patrimônio.
Mas lembre-se que a ideia é diversificar. O dinheiro aplicado no exterior não deve ser sua reserva de emergência, que é aquele valor que é sacado no caso de um imprevisto. Não conte com a liquidez desse investimento.
Outro cuidado necessário, alerta Leticia Camargo, é para o câmbio. Em geral, os investimentos oscilam conforme o dólar ou outra moeda. Por outro lado, até pode servir de proteção caso os planos para esse dinheiro sejam exatamente gastá-lo na moeda estrangeira.
Confira parte da entrevista:
Investir no exterior é uma boa pedida?
- Há a possibilidade de países mais desenvolvidos terem uma recuperação mais rápida. O Brasil é uma economia emergente. É possível que países como Estados Unidos e os da União Europeia melhorem antes. Nesse caso, poderia ser uma oportunidade para poder investir no exterior e conseguir ter esse retorno dos investimentos mais rápido lá fora do que aqui.
A taxa de juro brasileira influencia nesse cenário... No menor patamar histórico, a Selic está em 2,25% ao ano e deve cair mais...
- Até final de 2016, tínhamos uma taxa de juro no Brasil de mais de 14%, e agora a taxa de juros está em 2,25%. O que isso significa? Que antigamente, para você mandar o dinheiro lá para fora, tinha um custo de oportunidade, ou seja, você deixava de investir em uma taxa muito alta aqui no Brasil para investir em uma taxa mais baixa lá fora, se falando em renda fixa. Agora, como a taxa de juros também está baixa no Brasil, esse custo de oportunidade acaba sendo mais baixo. Então, é até mais interessante fazer a diversificação de investimentos no exterior.
E tem como manter a diversificação na carteira de investimentos?
- Investir somente no Brasil acaba sendo um investimento em uma parte muito pequena da economia mundial. O PIB do Brasil é em torno de 2 a 3% do PIB mundial. Então, acaba que você está investindo em uma parte muito pequena da economia mundial. É interessante essa diversificação. No caso de uma crise regional, se você tiver com diversificação em outros países, pode sofrer menos com. Não é o caso da pandemia agora, onde todos os países sofreram, alguns mais, outros menos. Mas se ocorrer apenas uma crise no Brasil, você estará diversificado.
Investir no exterior é apenas para ricos? Ou é possível fazer pequenos aportes? Há bancos oferecendo fundos com aplicação a partir de R$ 1.
- Sim, hoje é possível inclusive investir no exterior sem precisar mandar o dinheiro lá para fora. Mas como? Você pode hoje investir em produtos financeiros aqui no Brasil que tenham exposição em ativos no exterior. Para investidores que não sejam qualificados (com patrimônio alto), há produtos financeiros que podem investir em até 20% em ativos no Exterior. Alguns deles são até com valores iniciais baixos e custos menores. Então, nem precisa ter tanto dinheiro assim. Faz sentido investir no Exterior, mesmo para aquele pequeno investidor.
Confira a conversa completa com Leticia Camargo para o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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