Uma mistura de otimismo e pessimismo. Ou ainda, de esperança com incerteza. É a percepção da coluna ao conversar com os mais diversos agentes econômicos sobre as previsões para 2018. O ano terá eleições com cenário ainda indefinido, a inflação tende a subir um pouco, a taxa de juros Selic deve parar de cair em fevereiro e o mercado de trabalho segue trazendo surpresas mensais. Tudo isso atinge os investimentos pessoais. Por isso, a coluna conversou com diversos economistas e consultores para projetar o desempenho de aplicações financeiras em 2018.
Lembrando que não existe o melhor investimento entre todos. Muito menos uma receita de bolo que sirva para qualquer um. Há sim uma combinação da situação da economia, perspectiva e o perfil de cada investidor. Fatores como prazo e quantidade de dinheiro disponível contam bastante na escolha. Comece respondendo duas perguntas sugeridas por Patrícia Palermo, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS):
1) Quando vou precisar do dinheiro?
Trace um horizonte de tempo, já que guardar dinheiro para a aposentadoria ou para o ano seguinte faz muita diferença. Um exemplo é o Tesouro Direto, que tem rendimentos bastante atrativos se você esperar até o vencimento. Se precisar do dinheiro antes, vai receber o que o mercado está pagando no dia. Há ainda aplicações que o pagamento ao cotista não ocorre no mesmo dia do saque.
2) Qual o risco que topo correr?
Você aguentaria "perder" dinheiro? Risco e retorno andam juntos. Se você não suporta a ideia de sacar menos do que aplicou, fuja de certas aplicações por maiores que sejam os retornos prometidos.
Poupança e Tesouro Direto
Alternativa popular, a caderneta até parou de corroer o poder de compra do dinheiro já que a inflação caiu. Em 2017, foi acionado o gatilho em que a poupança passa a render 70% da Selic quando a taxa de juros fica abaixo de 8,5% ao ano. No entanto, o consultor financeiro Andre Massaro percebe que ainda não "caiu a ficha" para a maioria dos investidores de que a caderneta está rendendo menos.
Sócio da gestora de fundos Quantitas, Rogério Braga ressalta que outros investimentos seguirão mais atrativos do que a poupança em 2018. Cita títulos do Tesouro Direto, que têm apenas o chamado "risco de governo" já que são papéis emitidos pelo Governo Federal. Especialista em renda fixa, Braga sugere LTN com vencimento em 2020 e também títulos indexados pelo IPCA, NTN-B 2035, que protegem o dinheiro da inflação. Se optar pelo modelo "principal", o juro semestral é reaplicado automaticamente. Evite, é claro, comprar e vender várias vezes para não pagar tanto em taxas.
Ainda sobre títulos atrelados à inflação, a planejadora financeira Letícia Camargo lembra que seguem pagando mais de 5% acima da inflação, com vencimentos até 2050 com risco baixo. Em época de juros baixos, é uma rentabilidade interessante, ainda mais para investidores conservadores.
CDB
Assessor de investimentos da Monte Bravo Investimentos, Felipe Mahler projeta rendimento em torno de 6,5% para os CDBs. Não é um número ruim, já que a inflação também caiu bastante. O retorno desta aplicação varia muito de uma instituição financeira para outra. A orientação é buscar aquelas que oferecem mais de 100% do CDI.
Fundos Multimercado
Indicação forte do assessor Felipe Mahler, da Monte Bravo. Diz ser ótima opção em cenário de juro baixo e alta na bolsa de valores. O fundo multimercado mescla aplicações bem diferentes, como renda fixa, câmbio e ações. Exige aplicação baixa, mas proporciona diversificação, gestão qualificada e acesso a mercados que normalmente exigem valores iniciais. Mahler sugere para investidores moderados que aplicam no médio e longo prazo. Rogério Braga, da Quantitas, pede que o investidor não se assuste com a oscilação dos fundos multimercados no curto prazo, pois chegam a render de 120% a 130% do CDI.
Renda Fixa
Felipe Mahler, da Monte Bravo, comenta que LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) estão cada vez menos atrativas. Rogério Braga, da Quantitas, diz que várias estão pagando menos de 80% do CDI, o que é muito baixo. O lugar tem sido ocupado pelos chamados CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), que são similares, mas emitidos por empresas. Não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito, mas as taxas são melhores, não pagam Imposto de Renda e os riscos não chegam a ser altos. Braga alerta para taxas de administração, que não devem ficar acima de 0,5%. Outra opção citada por este consultor é debênture, mas sugere cautela na compra de títulos de crédito de prazo mais longo.
— O país está ainda em risco fiscal e isso pode ter impacto nas empresas nos próximos anos — pondera Braga.
Fundos imobiliários são uma aposta de Andre Massaro, já que este setor deve acompanhar uma retomada da economia. Lembra da "afeição" que os brasileiros têm por imóveis.
Bolsa de Valores
O mercado apostava em um investidor mais afoito por ações em 2017. Não foi tanto como a expectativa. Até mesmo por alguns solavancos, como a queda intensa ocorrida em maio com a delação da JBS. A esperança segue para 2018. Como diz Letícia Camargo, as ações são "pedacinhos das empresas" e o empresário quer ganhar dinheiro.
— Se não, ele coloca o dinheiro em uma renda fixa e vai para a praia tomar água de coco. Mas quem não acompanha o mercado pode investir indiretamente, por meio de fundos de ações — diz Letícia.
Felipe Mahler, da Monte Bravo, sugere destinar até 15% dos investimentos para a bolsa de valores. O consultor Andre Massaro ressalta algumas ações que tiveram alta forte e acabam chamando pequenos investidores para a Bolsa de Valores. Um exemplo é a Magazine Luiza, com valorização de 475%. Para 2018, Massaro acha que algumas ações vão virar "modinha". Sócio do Grupo L&S, Leandro Ruschel sugere observar companhias empresas beneficiadas pelo mercado chinês, que apresenta bastante resiliência, e pela reforma tributária que reduziu impostos para empresas nos Estados Unidos.
Previdência Privada
Aplicação bem lembrada pela Marisa Dornelles, da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). Segundo ela, a opção ganha força com as mudanças previstas na Previdência Social e o amadurecimento do mercado financeiro em relação aos Fundos de Previdência Privada. As seguradoras têm investido tempo e dinheiro na gestão e na entrega de resultados, defende Marisa, que também é consultora da Brasilprev Seguros e Previdência. Importante lembrar que são investimentos de longo prazo e evite taxas de administração altas, que corroem a rentabilidade. Alguns planos cobram incríveis 4% de taxa, um patamar altíssimo.
Bitcoin
A moeda virtual foi a pauta do ano. Meses de alta, mas com oscilações intensas. Há quem acredite ser uma bolha e não aconselha de jeito algum. Outros dizem que é uma oportunidade curiosa, mas aplicam parte pequena do dinheiro. Aqueles mais apaixonados pelo risco colocaram grandes quantias em bitcoin. Alguns realmente ganharam dinheiro, mas no geral os consultores recomendam cautela, citando a volatibilidade da criptomoeda e a falta de regulação. O consultor Andre Massaro avisa, no entanto, que as criptomoedas vieram para ficar.