* Jornalista e escritor
O número 18 é marcante. Aos 18, a maioridade nos faz adultos e o mundo se abre à frente. Agora, no ano 18 do século, as datas se amontoam. São os 100 anos do fim da Grande Guerra de 1914-18, quando o poder político virou matança. Só em Verdun, morreram 380 mil soldados alemães e 370 mil franceses.
Há 100 anos surgiu a "gripe espanhola". A putrefação dos cadáveres matou milhões mundo afora, num tempo sem antibióticos, em que as epidemias eram "castigo divino".
Meio século após, 1968 brotou luminoso. Da França e Alemanha, a rebelião juvenil chega aos Estados Unidos denunciando a guerra no Vietnã e, logo, ao México. Na Tchecoslováquia, democratiza o regime comunista. Aqui, o povo vai às ruas contra a ditadura direitista.
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Em maio de 2018, serão os 50 anos da rebelião que mudou a segunda metade do século 20, e o final oito soa a despertar
Nada, porém, supera a abnegação dos "18 do Forte de Copacabana", os jovens tenentes e soldados que saíram à rua da então capital do país em 1922 (juntos a um civil) para "depor o governo corrupto e restaurar a dignidade". Em luta contra mais de mil, sobreviveram só os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
O civil era Octávio Corrêa, fazendeiro milionário de Quaraí, que vivia entre Paris e Rio. Juntou-se aos rebeldes na rua "para derrubar a tirania". Na célebre foto pela Avenida Atlântica, ele está na primeira fila, de chapéu, terno, gravata e fuzil, disposto a imolar-se para "salvar o Brasil".
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Em 2018, serão os 50 anos do Ato 5, em que a ditadura assumiu-se como despótica. E o passado – na grandeza ou no horror – vira advertência.
No último fim de semana, ZH mostrou os pretendentes ao Palácio do Planalto e ao Piratini, num cenário em que quase ninguém ostenta feitos de abnegação e coragem, predominando a politicalha vã.
Que saudade da velha integridade! Já nem falo de Castilhos, Borges de Medeiros ou Getúlio, mas de Dornelles, Meneghetti e Brizola dos meus tempos de 18 anos.