* Jornalista e escritor
O planeta Júpiter, com eflúvios e dilúvios, regerá o novo ano de 2018, dizem os astrólogos. Preparemo-nos, pois a astrologia sabe prever o passado, tal qual os economistas e os cientistas sociais… Ao meter-se com o amanhã, tropeça, pois o futuro não está nos astros, mas em nós.
De fato, o futuro está naquilo que ignoramos do cosmos e que só os astrônomos podem desvendar – nunca os astrólogos, que brincam com os astros como as crianças com bonecos. O futuro está na sonda da Nasa e suas voltas a Júpiter desde julho de 2016. Levou cinco anos para lá chegar. Ao partir em agosto de 2011, nosso planeta era outro. Havia esperança. Obama presidia os EUA. Michel Temer coordenava a base alugada da presidente Dilma. O "mensalão" parecia o primeiro e último vestígio da corrupção.
A Polícia Federal sondava um pequeno posto de combustível e lavagem a jato, ligado ao deputado José Janene, do PP do Paraná, falecido pouco antes. A Petrobras se dizia poderosa e limpa. Poucos sabiam do juiz Sérgio Moro. Ignorantes e cegos, em 2011 éramos ridiculamente felizes.
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Os astrônomos e físicos da Nasa creem que, em poucos anos, ao entender as fotos e sons de Júpiter, tudo o que sabemos do Universo e da vida "parecerá ingênuo e infantil".
Quando a sonda partiu, em 2011, aqui o "mensalão" já mostrara o horror, mas seguíamos ingênuos. Dilma recém assumira a presidência. Lula, seu grande eleitor, ainda não havia aparecido como "agente duplo" durante a ditadura (defendia salários e denunciava "subversivos" à polícia política), como revelou o secretário de Justiça de seu governo, Romeu Tuma Jr., logo após. Na Câmara, Temer discursava contra a corrupção ou pelo meio-ambiente, sem ninguém suspeitar que, anos depois, a Procuradoria Geral da República o denunciaria como "chefe da organização criminosa" montada pelo PMDB na Petrobras e noutros cantos.
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Com o pé em 2018, tudo está à mostra, não só o conluio criminoso entre grandes empresas e políticos. Perdemos a inocência, mas, com o vírus ingênuo de antes, já não temos rumo.
Finalmente, Maluf – intocável símbolo da corrupção – foi preso, mas por crime antigo, quase prescrito. A prisão tardia de um homem alquebrado mostra que o crime compensa. E o vergonhoso indulto de Natal engendrado por Temer prova (como insinua a procuradora Raquel Dodge) que a impunidade se aninha no alto escalão.
O novo ano tem apenas trastes velhos, carcomidos de cupim, como dizem as enquetes presidenciais?