* Jornalista e escritor
O Natal nos leva à luz. É data do nascimento de um menino pobre que enriqueceu o mundo. Um guri tão pobre, que nasceu numa estrebaria porque os pais (perseguidos por um rei déspota) na fuga não encontraram outro pouso. O menino cresceu, pregou a solidariedade, proclamou que "Deus é amor", foi torturado e condenado à morte.
O Natal simboliza a fraternidade que se dilui aos poucos como doutrina, num mundo que valoriza a cobiça e a vulgaridade. Os cobiçosos nos infestam há séculos, mas a vulgaridade é recente. Expandiu-se no século 20 e é novo deus idolatrado.
Somos capazes de pequenos atos de fraterna nobreza, impensáveis em outros dias.
Até a expansão tecnológica, que fez a eletrônica prolongar a vida e revolucionar a medicina e a comunicação, hoje serve também ao vulgar. Aí estão a música violenta e sem musicalidade ou o desrespeitoso tom de certas TVs (e da internet nas tais "redes") propagando a baixeza e o achincalhe.
A vulgaridade é a etapa inicial do horror. Basta um pulo e se chega ao crime, seja o assalto de rua ou a corrupção político-empresarial.
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Mesmo assim, o Natal é luz. Com o presépio do Menino Jesus ou com o Papai Noel, nos atiramos ao júbilo. Somos capazes de pequenos atos de fraterna nobreza, impensáveis em outros dias.
Recordo os anos 1950: "seu" Israel Wengrover, dono de uma fábrica de bonecas na Rua São Pedro, no Natal saia pela cidade distribuindo presentes às crianças pobres. Nascido na Polônia, judeu e socialista, ideologicamente ele nada tinha a ver com o espírito religioso do Natal, mas o vivia e interpretava.
A luz do Natal transmite uma irresistível eletricidade. Por isto, no início da semana, quando vieram cortar a eletricidade da minha casa por falta de pagamento de R$ 44 de uma velha conta extraviada (e paga naquela manhã), não invoquei a solidariedade. Só indaguei quantos teriam um Natal sem luz. "Comigo, duas dezenas. Milhares, só na Capital", explicou o funcionário da CEEE.
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Aplaudi o zelo em resguardar o patrimônio da empresa. Mas (já que a tarifa aumentará 30% em 2018) me indaguei: por que o governador Sartori não busca ressarcir-se de R$ 1 bilhão (em valores atuais) roubados à CEEE em 1988, no governo Pedro Simon, do PMDB?
Nunca julgado, o processo segue "em segredo de Justiça" e prescreverá em breve. Que segredos oculta para que ninguém tente iluminá-lo?
Lembrei-me, então, da definição do papa Francisco: "A luz do Natal és tu mesmo quando tua vida de bondade, paciência e generosidade consegue ser luz e ilumina o caminho dos outros".