A cobiça e transformação do dinheiro em diabólico deus único que permite tudo (até o crime) é coisa antiga. Hoje, porém, tornou-se insaciável. No frenesi da sociedade de consumo, perverte desde os governantes até adolescentes que, pela tenra idade, deviam desconhecer a maldade.
Já nos habituamos ao horror. O presidente da República e dois ministros estão denunciados à Justiça como "chefes de organização criminosa". No Rio Grande, a inércia governamental afeta a todos, paralisa o ensino e afasta daqui empresas gaúchas, mas o que hoje me atordoa é outro crime atroz que o desdém faz crescer.
O dinheiro é um meio para construir, nunca para destruir ou paralisar. Isto vale para o público e o privado
Dias atrás, Ana Vitória, de um ano e sete meses, a irmã Sabrina, de 11 anos, e a mãe, Rosilei Hanauer, foram estranguladas de uma a uma por dois adolescentes de 17 anos. Com elas ainda ofegantes, semimortas, atearam fogo à casa, em requintada perversão assassina.
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O crime não foi na selva erma, mas em Capela de Santana, no Vale do Sinos, núcleo de gente trabalhadora, com celular, TV e consumo. Os assassinos "não tinham antecedentes" nem rusgas com Rosilei e as crianças. Só queriam dinheiro para comprar cocaína…
Perto dali, em São Jerônimo, um adolescente de 17 anos foi assassinado na rua, "por engano". O narcotráfico queria "matar outro jovem", devedor de R$ 2 mil por consumo de cocaína e crack.
A droga é mais catastrófica do que a peste que dizimou milhões de seres humanos. Na Idade Média, a ignorância gerou o desastre. Hoje, a cobiça gera a maldade travestida de "prazer" que destrói em silêncio. Todo dia a polícia prende traficantes, mas o narcotráfico cresce com poderes incontroláveis. A razão? Os grandes narcotraficantes são intocáveis. De um lado, a fidelidade canina dos comandados "pés de chinelo" os protege. De outro, o cínico medo dos governantes de tocar no cerne da questão.
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O dinheiro é um meio para construir, nunca para destruir ou paralisar. Isto vale para o público e o privado, do mercadinho à grande empresa, mas o governo do Estado o ignora. Com a maioria do Legislativo, o correto Sartori teima na loucura de fazer do Estado um mero carimbador de papéis e extinguir órgãos fundamentais para o desenvolvimento, sob pretexto de "enxugar" o orçamento.
Para ele, o futuro não existe. A ciência e tecnologia, a proteção à natureza, o planejamento econômico ou a formação de funcionários são coisas fúteis. Nossos rios, lagos e portos são estorvos, tais quais os silos que albergam nossos cereais ou a TVE e Rádio Cultura.
Estaremos todos drogados?