* Jornalista e escritor
A ilusão e a mentira são primos. Quando unidos, se desdobram e se multiplicam, formando algo que está à vista mas não existe.
O que assistimos no Brasil é isto. A mentira guia a política e a área pública, invadindo o setor privado. Acreditamos nas inverdades e a ilusão nos domina. Votamos em ladrões fantasiando que o roubo acabe e, assim, todo dia estoura novo assalto bilionário. Bebemos leite adulterado com soda cáustica (ou "água mineral" da torneira), comemos carne apodrecida rotulada de especialidade, numa coleção interminável em que o engano vira rotina.
Toda atividade pública é guiada pela propina. E surge a triste vergonha de que até o atual presidente da República (junto a seus mais próximos) é investigado pela Justiça, tal qual todos os cinco antecessores vivos.
Pode alguém investigado por crime continuar como chefe de governo e chefe de Estado?
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A cada dia, um novo escândalo faz esquecer o anterior. Agora, a fraude de R$ 950 milhões na construção do estádio Mané Garrincha levou à prisão dois ex-governadores do Distrito Federal, um do PMDB, outro do PT, opositores entre si mas irmanados no assalto. E as demais obras da Copa, país afora (inclusive em Porto Alegre) todas sem licitação, contratadas a quem cobrasse mais caro?
Nada supera, porém, o vasto e profundo assalto ao BNDES praticado pelo grupo JBS, dos irmãos Batista. Ali se sintetiza o horror. Vem dos tempos da orgia presidencial do Lula, segue com a Dilma e o Temer na aliança PT-PMDB, implica o Aécio quando candidato do PSDB, aluga deputados para apoiar o governo e para Eduardo Cunha presidir a Câmara, compra para votar contra o impeachment e para votar a favor do impeachment. Suborna doando, doa subornando.
Até nosso Sartori, pessoalmente correto e do PMDB, recebeu um milhão e meio, intermediados por Aécio, do PSDB…
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Os bilhões com que o BNDES financiou (junto à Caixa Econômica) o império dos irmãos Joesley e Wesley vieram do PIS-Pasep e do FGTS, pertencentes a quem trabalha. Aí estão as fontes dos dois bancos, além do Fundo da Marinha Mercante e outros menores.
Desde 2015, até empregada doméstica ajuda a JBS, sem saber que também é sócia (mas sem lucro) das sandálias havaianas, dos tênis Topper, Rainha,
Mizuno, Dupé, Osklen, Timberland e outros que usa nos pés. Ou das carnes da cozinha.
Todos contribuímos para os bilhões da JBS. Não só o astro de telenovela que garantia pela carne da Friboi!
O ato mais popular de Temer – festejado por todos – foi liberar o pagamento do FGTS inativo, que pertence a cada trabalhador e do qual a Caixa é mero depositário. Mas (comparado aos bilhões dados pela Caixa à JBS para formar seu império) o que é isso, se não vergonhosa migalha, como pão-velho atirado aos cães para abrandar o latido?
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A degradação moral invade todos os partidos, não só o trio PP-PMDB-PT que destruiu a Petrobras. Salvam-se só os pequerruchos Rede, PSTU e PSOL. Seguirão assim se chegarem ao poder?
Por isto, o "fora Temer" é só mais um remendo na roupa rasgada. E o "fora todos" tem o perigo de seduzir déspotas aventureiros e nos aleijar.
Estamos órfãos, abandonados e sem rumo!
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P.S. 1 – O terror em Manchester, na Inglaterra, recorda a bomba que explodiu no colo de um sargento do serviço secreto do Exército, ao ser armada para estourar mais tarde, em pleno show em que os grandes da MPB cantavam para cinco mil jovens no 1º de Maio de 1981, no Rio Centro, RJ. Era o início da "abertura" do governo Figueiredo, o país voltava à normalidade, mas a direita ansiava por retornar ao terror e provocava o próprio general-presidente.
As portas do imenso auditório tinham sido trancadas, para que (no pânico da bomba) uns pisoteassem os outros, num morticínio obra da demente direita brasileira, ainda mais tétrico que o de Manchester.
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P.S. 2 – Neste domingo, às 17 h, na TV Educativa, Canal 7, no programa "Faces" conto algo do que vi e vivi. Até lá!
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