Quem está torcendo para 2016 acabar logo – e terminará logo ali no fim de semana, ufa! – ainda não se deu por conta que 2017 será um 2016, parte 2. Sei que é nossa tarefa, quero dizer, tarefa de todo mundo ser otimista, mas muita coisa deverá, inclusive, piorar. Por favor, não culpe o mensageiro. Exemplifico. Pense que será o primeiro ano de Donald Trump na presidência da maior potência do mundo e tente imaginar os efeitos colaterais de cada decisão que ele tomar, da mudança climática à política econômica.
Na toada de Trump, 2017 poderá ser o ano de (mais) ascensão da extrema direita. Marine Le Pen está cotada para vencer as eleições na França. Em 2018, sem querer adiantar muito as coisas, poderá ser a vez do Brasil. Sei lá, espero que não. O crescimento da extrema direita é um problema para pessoas de esquerda e também para pessoas moderadas de direita. É um jogo de perde-perde. Mas momentos de crise costumam ser propícios para a emergência desse tipo de fenômeno. Já vimos isso na história.
O mundo deverá continuar em crescimento econômico lento, pois nenhuma mudança significativa foi realizada. Teremos, acredito eu, um aprofundamento do fosso social. E, com isso, mais violência. No Brasil, provavelmente seguiremos com altas expectativas e baixas realidades, em compasso de espera pelas eleições, seja lá quando elas forem realizadas. Como bons torcedores (afinal, somos o país do futebol), cruzaremos os dedos aguardando a sonhada estabilidade.
Mas será que não sobrou aí nenhuma previsão assim mais ou menos positiva? Aqui com meus botões, torço pelas pequenas grandes coisas da nossa província. Que os grupos de teatro retirados do Condomínio Cênico do Hospital Psiquiátrico São Pedro encontrem novas casas. Que o mesmo aconteça com os coletivos do projeto Usina das Artes, caso percam seus espaços com uma possível reforma da Usina do Gasômetro. Que o público tenha novamente o Teatro de Câmara Túlio Piva à sua disposição.
Tem mais: que sobrevivam os grandes eventos culturais, as orquestras, as livrarias e os cinemas. Que tenhamos, enfim, arte e pensamento, pois nos permitem vislumbrar soluções para os impasses da atualidade. E é nos momentos de crise que mais precisamos disso. Se a realidade não oferecer momentos de respiro, que possamos sonhar como os artistas. Quem sabe eles nos inspiram para transformar os desejos em ações.