Li esses dias uma manifestação do professor de Literatura Idelber Avelar, que dizia estar sendo tomado por uma ojeriza à expressão "marco teórico", muito utilizada no mundo acadêmico. É uma opinião rara, que destoa do protocolo dos departamentos de ciências humanas. Também Carlos Gerbase, aqui no Segundo Caderno, fez recentemente uma crítica ao padrão do texto acadêmico. São opiniões que nos ajudam a repensar o que estamos fazendo nas universidades.
O cerne da questão foi muito bem captado pelo ensaísta americano Benjamin Moser em entrevista a Zero Hora em julho último. Moser, que é biógrafo de Clarice Lispector, surpreendeu-se com a quantidade de trabalhos acadêmicos no Brasil que abordam a obra da escritora a partir da perspectiva de teóricos de fora do país, em geral franceses. Veja só a ironia: aqui está um estrangeiro, Moser, sugerindo que os pesquisadores brasileiros assumam suas posições, em vez de resguardarem-se sob uma teoria importada que nem sempre é pertinente para compreender melhor a obra de Clarice ou de qualquer outro criador brasileiro.
Não é o caso de pregar um nacionalismo cego, como se devêssemos ignorar o conhecimento elaborado nos EUA ou na Europa. Sabemos que há grandes insights em Foucault, Deleuze, Derrida e Rorty, entre outros.
A questão é o uso que se faz deles: a exigência de uma fundamentação teórica no primeiro capítulo de uma dissertação ou tese frequentemente torna boa parte de cada um desses trabalhos um longo e tedioso resumo de determinados conceitos que já foram tratados e maltratados antes. Muitas vezes, o que vem depois sequer guarda relação estreita com a fundamentação teórica. O primeiro passo, portanto, é refletir sobre o que se espera de um trabalho acadêmico.
Há também um problema de concentração de teorias, por assim dizer: muitas pesquisas são baseadas em um reduzido grupo de pensadores. Isso faz com que alguns trabalhos busquem referência em uma filosofia que não é necessariamente apropriada. É possível que haja um nome pouco cultuado cuja teoria seja mais útil ao objeto de estudos em questão do que um figurão canônico. O segundo passo, então, é pensar fora da caixa.