Uma das funcionalidades mais interessantes do finado Orkut eram as comunidades que qualquer um podia criar, muitas vezes simplesmente com fins de diversão. A profissionalização da internet e o tom sério que tomou conta de tudo solaparam aquela despretensão matreira. O único saudosismo que tenho na vida é das comunidades dedicadas a trocadilhos. Quantas criações não se perderam na poeira digital?
Certa vez, o jovem eu resolveu inventar o grupo "Indiferentes ao Michael Moore". Na época, estavam muito em voga os documentários do cineasta americano, que sempre dividiam opiniões: ou você amava ou odiava. Um pouco entendiado com tudo aquilo, resolvi abrir um fórum para que todos pudessem manifestar sua indiferença a respeito dele. Claro que era uma provocação, a começar pela própria contradição entre "manifestar" e "indiferença". Nem preciso dizer que nenhum dos pouquíssimos participantes da comunidade era realmente indiferente. As pessoas acabavam xingando ou elogiando Moore, o que me obrigava a fazer constantes intervenções, reforçando a ideia original.
Alguns anos depois, as coisas estão um pouco mudadas. Nos debates no Facebook e nos grupos de WhatsApp, o revolucionário é não se manifestar. Às vezes, devemos simplesmente admitir que precisamos ler mais sobre aquele assunto. Há casos, no entanto, em que a recusa ao debate soa como ofensa. Não há nada mais grave no Rio Grande do Sul do que ser indiferente à dupla Gre-Nal. Se há algo que une colorados e gremistas é o desprezo ao torcedor não praticante.
Em outros casos, você não é indiferente a determinado tópico, apenas deseja debatê-lo em uma arena mais apropriada. Tenho aplicado esse princípio às refeições familiares, escaldado pela experiência de confraternizações que viraram, em questão de segundos, um debate ferrenho sobre quem tem mais razão a respeito da situação política do país. Nunca vi ninguém dizer nada interessante brandindo um pedaço mordido de polenta em uma galeteria. Exceto, claro, um bom trocadilho.