Li, com prazer, o novo romance de Daniel Galera, Meia-noite e vinte (Companhia das Letras), que não deixa de ser um retrato de jovens com aspirações intelectuais que olham para trás e realizam um balanço de suas vidas. Se a célebre peça Look back in anger, de John Osborne, ganhou no Brasil o título de Geração em revolta, o livro de Galera registra a experiência de uma geração em crise.
Há algo de universal, ou melhor, geracional aqui. Estamos falando de pessoas que protagonizaram interessantes experiências nos primeiros tempos da internet comercial no Brasil, em meados dos anos 1990, e cerca de 20 anos depois estão em diferentes estágios da vida adulta, agora com 30 e poucos anos de idade, perto dos 40. O mais bem-sucedido dos personagens, Andrei Dukelsky, é um brilhante escritor que morre assassinado – o que motivará o reencontro dos amigos. Antero é um publicitário em ótima situação financeira, mas, na visão de um dos narradores (são três), tornou-se uma espécie de picareta que conquista a conta de grandes corporações valendo-se do estranho jargão da era das novas mídias. Emiliano é um jornalista que realiza trabalhos para um sofisticado veículo de comunicação financiado com verba da indústria farmacêutica. E Aurora é uma doutoranda de Biologia às voltas com pendengas acadêmicas que podem comprometer seu futuro.
De alguma forma, todos os personagens se debatem com questões éticas, o que fica claro na oposição entre Antero – aquele que conseguiu rentabilizar sua criatividade, mesmo abrindo mão de alguns princípios – e Emiliano e Aurora, que seguiram suas vocações, mas enfrentam dificuldades financeiras. Em outras palavras, essa geração parece se dividir entre os que se acomodaram ao mundo como ele é e os que perceberam que transformar ou pelo menos afetar o mundo é mais difícil do que pensavam.
Meia-noite e vinte não traz, ao final, uma conclusão sobre que fim levou essa geração, até porque a história ainda está sendo vivida. Mas a sensação pré-apocalíptica que envolve o livro dá a entender que o tempo está prestes a acabar e, portanto, é preciso correr para realizar alguma coisa na vida.