Todo amante de música que foi jovem até os anos 1990 guarda certo carinho pelas mixtapes, aquelas fitas cassete que gravávamos com uma seleção de faixas. Eram registros de baixa qualidade técnica, pois sempre vinham de outra fonte, como o rádio, um LP ou outra fita – nos tempos da fita cassete, quanto mais você regravava, pior ficava. Mas havia algo de sentimental nas mixtapes, pois geralmente marcavam um momento particular da nossa vida, como a descoberta de uma banda, ou representavam a trilha sonora de uma história – era normal trocar fitas com sua cara-metade.
Hoje, as mixtapes foram substituídas pelas playlists em serviços de música por assinatura, mas no período entre as fitas cassete e o streaming houve os CDs regraváveis. Foi um desses que redescobri recentemente, vasculhando coisas antigas. Continha o primeiro álbum do Velvet Underground, aquele com a Nico. Ao final, para minha surpresa, o jovem eu havia acrescentado outras músicas nada a ver apenas porque ainda tinha espaço no disco. Estavam lá (Nothing but) Flowers, aquela canção irresistível do Talking Heads que remete à Tropicália, e – numa surpreendente guinada melancólica – A whiter shade of pale, grande sucesso do Procol Harum, com sua célebre introdução meio bachiana.
A primeira vez que ouvi A whiter shade of pale foi no filme Contos de Nova York (1989). É, de fato, uma das músicas mais bonitas da história, mas nunca tinha prestado atenção exatamente na letra, que é de uma tristeza absoluta. Uma dessas canções de fim de relacionamento que podem te deixar na fossa imediatamente, mesmo que você não esteja passando por isso. É que quase todo mundo já teve um relacionamento terminado. Faz parte da vida. Logo no terceiro verso aparece a melhor definição desse sentimento de perda: "Eu estava me sentido meio mareado". Toda a letra é perpassada por essa ideia de entorpecimento, o que, para alguns, é sinal de que o eu lírico estava provavelmente bêbado. Mas também pode ser apenas um sentimento universal.