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A formação do jogador de futebol nem sempre é algo simples. Muitas vezes, além da parte técnica e tática, com treinamentos exaustivos, é preciso ter uma capacidade emocional muito forte. O que é difícil para adolescentes que estão em início de carreira.
Por isso, a estrutura dos clubes em categorias de base tem de ser muito profissional. Um dos dirigentes mais capacitados do mercado brasileiro é Júnior Chávare, que teve duas passagens pelo Grêmio como diretor das categorias de base. Além disso, trabalhou no São Paulo, foi observador de clubes internacionais e consultor da Juventus, da Itália.
Chávare acaba de ser contratado para comandar a base do Atlético-MG. Para entender como será o trabalho por lá, a coluna bateu um papo com ele. E claro que na conversa não poderiam faltar as histórias de como foi o processo de formação de dois craques do Grêmio: Arthur, que esteve na mira do São Paulo, antes de se destacar no time principal e ser vendido para o Barcelona, e Everton, que, em mais de uma oportunidade, quase deixou Porto Alegre por causa do frio.
Como foi o acerto para trabalhar no Atlético-MG?
Recebi o convite do presidente do clube, Sérgio Sette Câmara. Depois de algumas conversas, a direção entendeu que meu perfil era o que estava sendo buscado. Fiquei muito feliz em vir para um gigante do futebol brasileiro, e também por ter a oportunidade de reeditar a parceria com o Rui Costa (também ex-Grêmio, atualmente executivo do Atlético-MG).
O que você pensa sobre o projeto considerado ideal pelos clubes, que é formar o jogador e aproveitá-lo no grupo principal para só depois fazer a venda?
Esse é o resumo do que é meu currículo. Inclusive disse ao presidente do Atlético-MG que empilhar títulos na base é fácil, é só você trazer jogadores do último ano na sua categoria. Mas não é assim que eu trabalho. Eu faço o trabalho de formação, com a convicção de que categoria de base é para formar, e, através da qualificação, o título poderá ser consequência. Mais do que isso, a formação pode ser uma ferramenta de montagem da equipe principal para ter primeiro o ganho técnico e depois o financeiro. Esse é o modelo que vamos trazer para o Atlético-MG, que já tem uma estrutura muito boa na base.
Você teve a oportunidade de participar da formação do Everton no Grêmio, como foram os bastidores do crescimento deste jogador?
O projeto "Lapidar" foi utilizado para o crescimento de todos os atletas. Além do Everton, o Luan, Arthur, Walace. O Arthur ficou em uma imersão entre três e quatro meses, desenvolvendo valências nas quais ele tinha dificuldades. O Everton foi a mesma coisa, trabalhou muito a potência, a força. A técnica ele sempre teve, foi questão de refinar. Não é à toa que tem uma sequência de atletas com o mesmo perfil. Teve o Pedro Rocha, o Everton e agora tem o Pepê. Antes teve o Guilherme. Jogadores de força e potência. Isso faz parte da metodologia de trabalho que foi desenvolvida.
O Everton em algumas entrevistas disse que quase foi embora do Grêmio por causa do frio. Como foi este episódio?
Ele chegou em 2013, quando o inverno foi um dos mais fortes dos últimos anos. Tinha de buscar ele na rodoviária. De vez em quando ele sumia (risos). Tinha de combinar com os porteiros do Olímpico, antes da mudança para Eldorado do Sul, que quando chegasse um táxi para o Everton não era para deixar ele entrar. Ele arrumava a mala e queria ir embora. Quase perdemos esse craque para o clima. Brincadeiras à parte, foi isso. Mas a relação com ele sempre foi de muita conversa e carinho, ele é como se fosse um filho. Um dia brinquei com ele e falei: "o frio passa, as necessidades, não. Você tem condições de resolver todas as suas necessidades pessoais, financeiras e realizar todos os seus sonhos". O frio passou, e hoje ele pouco se importa se tiver de pegar neve para jogar em qualquer lugar do mundo.
E o Arthur? Foi diferente?
Quando eu cheguei, ele já estava no Grêmio. Era um meia ofensivo, de criação. Aí deu um passo para trás e recuou um pouco. Tem uma família maravilhosa, uma ótima estrutura. Ele sempre dizia que queria ser jogador da Seleção Brasileira principal. Quando eu fui para o São Paulo, teve mais de uma tentativa de levar ele emprestado. O André Jardine era o técnico lá, e sempre foi um grande fã do Arthur. Aliás, quando o Jardine trabalhou na base do Grêmio, teve uma participação muito importante na formação do Arthur. Eu tinha muita discussão sobre a formatação da careira dele, a necessidade de dar uma parada, se reestruturar fisicamente, para ter mais intensidade. Hoje a gente conversa e dá muita risada. Tive muitas conversas com ele, passei muita confiança. Quando voltei para o Grêmio, o colocamos na equipe de transição. O Roger começou a relacionar ele, e, depois com o Renato, deslanchou.