Nos divertimentos, nos banquetes, nos festins e nos folguedos, bem como, é claro, nas orgias, a presença deles era relativamente rara. O impacto que causavam, porém, se mostrava tão grande quanto eles. Ainda assim, apesar do tamanho descomunal, eles não deixavam de ser gentis. O que não chega ser surpresa, já que, para assegurar tal docilidade, tinham sido castrados. Sim, eles eram gigantes (com ao menos 2m15cm cada um), gentis e castrados. E passavam a maior parte do tempo confinados em seus alojamentos.
Já com os anões dava-se o oposto: esses perambulavam aos bandos, ruidosos pela corte, enchendo os palácios de som e fúria, sempre prontos para as algazarras, para as patifarias e as patuscadas, metidos em troças grosserias, fazendo piadas de mau gosto, causando constrangimentos. E nos bacanais, sua presença era vista como indispensável.
A obsessão da dinastia dos Romanov por gigantes e, em especial, por anões, não parece estar ligada apenas ao fato de que tais "mascotes" supostamente traziam boa sorte, mas sim porque, num sentido mais profundo e metafórico, tais aberrações representavam a excepcionalidade da família real que por mais de 300 anos comandou a Rússia com mão de ferro (e pés de barro). Além disso, gigantes e anões conferiam à corte um clima de conto de fadas, simultaneamente onírico e tétrico, como se para varrer a realidade para longe dali.
Alexei, um dos primeiros Romanov, inaugurou a prática em 1639, empregando uma trupe de 16 anões, que mantinha quase sempre bêbados, metidos em trajes quadriculados vermelhos e amarelos. O czar deu 22 anões de presente de casamento para sua noiva. Em seu plantel, havia anões favoritos, anões vingativos, anões encrenqueiros, anões delatores e, é claro, anões alcoviteiros, assíduos frequentadores do leito régio.
Até Pedro, o Grande, não escapou do velho costume e desfilou com um séquito de 72 anões e onze gigantes nas cerimônias de inauguração da soberba São Petersburgo, a cidade que ele ergueu para ser capital de todas as Rússias. O czar estava fazendo a história repetir-se como farsa, disposto a desmascará-la de uma vez por todas.
Pois bem: essa Copa já teve gigantes que viraram anões — você não precisa de mim para saber quem foram, não é? —, já teve anões que continuaram pequenos, já teve grandalhões pegando pênaltis que pareciam cobrados por pigmeus. Já teve gente subindo alto e caindo baixo. Já teve gente rolando sem ser tocada. Mas será que já revelou candidato à altura do título? Sei lá, Modric parece do tipo mediano, da estatura de um, digamos, Neymar. Mbappé corre muito — mas não voa. Já Cavani, com seus enormes 1m84cm, é um gigante. Pelo menos para mim.
Só espero que nenhum anão lhe venha passar a perna.