Todos os anos, a revista Science elege as 10 maiores descobertas científicas do período. Por restrição de espaço, selecionei cinco:
1. As fotos do buraco negro na galáxia Messier 87
Foi considerado o maior avanço científico de 2019.
Buracos negros são corpos maciços, às vezes maiores do que o sistema solar inteiro, espalhados pelas galáxias. Suas massas gravitacionais são tão descomunais que atraem para seu interior todos os raios luminosos e os corpos celestes que cometem a imprudência de passar por perto.
Como essas colisões emitem ondas gravitacionais, os astrônomos puderam detectá-las na Terra e comprovar matematicamente a localização desses gigantes que telescópio nenhum visualizava.
Em abril de 2019, um consórcio internacional com mais de 200 cientistas — entre os quais alguns brasileiros — conseguiu o que muitos consideravam impossível: revelar a silhueta desses monstros celestes, formada por uma parte central esférica, negra, circundada por um anel luminoso de fótons que entraram em órbita ao redor dela. As fotos foram publicadas no mundo inteiro.
2. A reconstrução do impacto que extinguiu os dinossauros
Há 66 milhões de anos, um asteroide gigante se chocou contra a península de Yucatán, no México. O impacto e a atividade vulcânica gerada por ele extinguiram 76% das espécies presentes no planeta, entre as quais os dinossauros.
A partir de 2016, um programa internacional extraiu materiais do centro da cratera, situados a uma profundidade de 835 metros, que incluíram 130 metros pertencentes ao próprio asteroide. Os dados permitiram reconstituir minuto a minuto os eventos que se seguiram.
Rochas liquefeitas pelo choque monumental se espalharam pela atmosfera, provocaram intensa poluição e tempestades de pedras. As águas do oceano se elevaram e o enxofre presente na região vaporizou. No fim do primeiro dia, os tsunamis espalharam materiais como o carvão, resultante dos incêndios florestais. Em menos de uma hora, a atividade sísmica soterrou plantas e animais pelo planeta. A Terra foi resfriada e mergulhou na escuridão.
A despeito da catástrofe, a vida começou a se recuperar rapidamente. Samambaias e mamíferos não maiores do que os ratos sobreviveram. Em 30 mil anos o ecossistema estava recomposto. Em 100 mil anos, já havia palmeiras e mamíferos com o dobro do tamanho.
Há quase 60 anos, um monge budista encontrou uma mandíbula numa caverna do Tibet.
Em maio do ano passado cientistas aplicaram uma técnica nova, baseada na análise de proteínas, que permitiu identificar a mandíbula como pertencente a um homem denisovano, espécie que viveu na Ásia até 50 mil anos atrás, mais ou menos ao mesmo tempo do que os neandertais europeus. O resultado trouxe à luz esses misteriosos ancestrais e demonstrou o potencial revolucionário de um novo método de análise paleontológica.
Como há traços de DNA denisovano em asiáticos vivos, é provável que denisovanos tenham viajado para outros continentes e se miscigenado com os neandertais e os humanos modernos.
4. Um tratamento para o ebola
Em 1976, foi descoberto o vírus ebola, responsável por um surto com alta letalidade, em Yambuku, no Congo. Desde então, ocorreram outros, na África.
Em 1996, cientistas isolaram um anticorpo contra o vírus, no sangue de um paciente que se curou espontaneamente da doença. Mais tarde, foi obtida outra medicação a partir de anticorpos obtidos em camundongos geneticamente modificados.
Em 2019, saíram os resultados de um ensaio clínico, mostrando que uma combinação desses dois medicamentos foi capaz de curar 70% dos doentes com Ebola, enquanto a administração de cada um deles em separado curou apenas 50%. Finalmente, dispomos de um tratamento eficaz.
5. Bactérias e subnutrição
Milhões de crianças subnutridas têm dificuldade de se recuperar, mesmo depois de bem alimentadas. Uma década de pesquisas levou à identificação da causa: a imaturidade da flora intestinal.
Em 2019, foi descrito um suplemento alimentar barato e fácil de preparar, à base de grão de bico, banana e farinha de soja e de amendoim, dotado da propriedade de estimular o crescimento de bactérias benéficas nos intestinos dessas crianças.
Um ensaio clínico comprovou que crianças alimentadas com esse suplemento apresentam concentrações de determinadas proteínas no sangue, iguais às das bem nutridas que se desenvolvem normalmente.