Depois de 11 horas numa cadeira na sala de espera do hospital, o menino de cinco anos morreu. Os telejornais mostraram o desespero da mãe e as imagens de outras crianças na mesma situação.
O Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia, é o único da região preparado para atender gestantes de alto risco e bebês prematuros. Recebe pacientes da capital, das cidades vizinhas, de outros estados do centro-oeste e até do norte do país.
A mãe e o menino haviam procurado um centro de saúde. Lá, ele recebeu tratamento e voltou para casa. Quando piorou, ela achou melhor levá-lo ao HMI, onde foi avaliado, recebeu medicamentos e aguardou vaga para internação, ao lado da mãe na sala de espera.
Em entrevista, a diretora do hospital, doutora Rita de Cassia Leal, disse que a superlotação a obrigava a atender as crianças naquelas acomodações improvisadas. Preferia assim do que recusar a admissão e deixar os pais baterem cabeça à procura de atendimento pela cidade.
A justificativa é de uma médica que entendeu a razão de existir de nossa profissão: aliviar o sofrimento humano. Quantos profissionais anônimos, com esse nível de espírito público, estão espalhados pelo país, cuidando de pessoas doentes em condições precárias?
Cerca de 80 a 90% dos problemas de saúde podem ser resolvidos em consultas ambulatoriais nas Unidades Básicas. Quando a atenção primária não funciona, as pessoas correm para o pronto-atendimento nos hospitais públicos. Os resultados são as imagens da TV: fila nas portas, salas de espera lotadas, gente sentada no chão. Aí, todos dizem que o SUS é uma vergonha. Ele apanha de todos os lados, é a Geni da música do Chico Buarque.
Poucos reconhecem que a criação do SUS foi a maior revolução da história da medicina brasileira. O que seria dos mais pobres se ele não existisse?
Além de recursos financeiros insuficientes, ao SUS falta gerenciamento. O Brasil não tem uma política pública de saúde digna desse nome.
Nos 30 anos de vida, o Sistema Único de Saúde se transformou no maior programa de distribuição de renda do país. Comparado com ele, o Bolsa Família é tímido.
Além de recursos financeiros insuficientes, ao SUS falta gerenciamento. O Brasil não tem uma política pública de saúde digna desse nome.
Sabe quantos ministros da Saúde nós tivemos nos últimos 10 anos? Doze. Média de permanência no cargo: 10 meses.
Quando muda o ministro da Saúde da Alemanha ou da Inglaterra, saem com ele meia dúzia de assessores próximos, o corpo técnico é mantido para que os programas não sofram solução de continuidade. No Brasil, à cada troca mudam a equipe inteira, os diretores de hospitais e de autarquias, programas são cancelados e os técnicos entram em compasso de espera até entender as novas diretrizes, muitas vezes impostas por superiores ignorantes, escolhidos por critérios políticos, sem noção dos desafios da área.
Nos governos estaduais e nas prefeituras, as secretarias da Saúde convivem com os mesmos desmandos, com a agravante de que as paixões políticas estão mais próximas do cotidiano da administração.
Como organizar a saúde pública no meio dessa confusão?