À medida que se sucedem os jogos de Eliminatórias, e não só as Sul-Americanas, mais se comprova uma ideia. A Copa do Mundo e as seleções nacionais, de modo geral, tornaram-se um show.
A cada quatro anos, os melhores de cada país se reúnem às pressas em um único lugar, boa parte longe de suas melhores condições por ser final de temporada na Europa. Fazem um treino aqui e ali e vão para o jogo. É mais um espetáculo midiático do que um evento capaz de nortear o futuro do esporte, tecnicamente falando.
Não há mais espaço para revoluções inéditas, como o futebol total da Holanda, em 1974. Ou, 10 anos antes, a Hungria de Puskas. Até então, o único esquema tático adotado era o W.M: as posições dos jogadores eram representadas através de uma linha imaginaria que ligasse os pontos. Aí Gusztav Sebes, técnico dos húngaros, inverteu o M e adotou o esquema que ficou conhecido como WW, o 4-2-4. A força física ganhava relevância também. A Hungria perdeu para a Alemanha (com um gol duvidoso na final), mas o 4-2-4 se espalhou.
A derrota do futebol mágico da Seleção de 1982 acabou valorizando a ênfase defensiva da Itália, que derrubou o time de Telê Santana e conquistou a Copa. Em 1990, o Brasil foi à Copa do Mundo com três zagueiros. Agora, não é mais assim. Os clubes ou países não copiam a Argentina de 2022, assim como não estavam nem aí para a França de 2018.
O calendário e a profusão de campeonatos de clubes, regados a bilhões de euros, tiram os melhores técnicos das seleções. Guardiola nunca treinou a Espanha, assim como Mourinho ou Klopp nem passaram perto de suas respectivas seleções, Portugal e Alemanha. Sem tempo para treinar, eles não são protagonistas. A parte coletiva se constrói no dia-a-dia, e isso não existe mais na vida das seleções. Além disso, os clubes pagam muito mais. Guardiola teria redução salarial se largasse o Manchester City pela seleção espanhola.
Com a overdose de vagas para a Copa, nem aquele medo de não se classificar existe. As estrelas vão levando suas carreiras à espera da Copa de quatro em quatro anos com a certeza da convocação pelo que produzem lá, nos clubes europeus.
Vinicius Junior não joga nada na Seleção, mas alguém o vê fora da Copa? Não, por que ele é um astro do Real Madrid. Raphinha melhorou bastante nos últimos jogos, como meia, mas mesmo que piore muito seguirá sendo chamado caso continue bem no Barcelona.
Vendo o empate deprimente do Brasil com a Venezuela, dei-me conta de que vai ser assim até o fim. Uma classificação arrastada, sem boas atuações. Os brasileiros que jogam na Europa, especialmente, devem achar um saco ter de ir a Maturín e jogar em estádios com vestiários de terceira linha na comparação com os palácios da Champions.
Os europeus compensaram esse problema com a Liga das Nações nas datas Fifa. Eles se reúnem mais vezes a cada ciclo. Fazem jogos oficiais com adversários de bom nível. Chegam mais preparados coletivamente.
O que nos resta, então? Pouco. Esperar pela Copa e torcer pelo show ser nosso em sete jogos, com alinhamento astral.