Leônidas, citado por Eduardo Coudet no final de sua entrevista coletiva após o empate em 0 a 0 com o São Paulo, viveu entre 400 e 500 antes de Cristo. Era o bravo rei de Esparta, uma cidade-estado grega. À época, não havia a ideia de país unificado, mas unidades com suas próprias regras, leis e governantes. Estas, inclusive, nutriam certa rivalidade. O espírito militar e a disciplina rígida eram a base de Esparta.
— Vou para a guerra como Leônidas, com seus 300 — sorriu o técnico do Inter ao ser questionado como seria daqui para frente sem Borré, Valencia, Alario, Alan Patrick e Mauricio, mais Wanderson voltando ainda sem ritmo.
O auge de um cidadão espartano era virar soldado e, mais do que isso, lutar e morrer pelo seu povo. Se um menino brasileiro sonha ser jogador de futebol padrão Neymar, o espartano mirava entrar para o temido exército espartano. Não era fácil. Não era qualquer que entrava. Para isso, treinava-se pesado desde criança. A fama desse exército ecoava pela Europa Antigo.
Para vencer um espartano, o inimigo que colocasse dois, três, quatro a enfrentá-lo. Tipo dobra de marcação sobre Messi. Parte dessa capacidade é verdadeira, com provas históricas materiais, mas claro que tem muito de mitologia, a partir de historiadores antigos como Heródoto, que misturavam realidade e narrativas épicas. Segundo Heródoto, portanto, o general espartano Leônidas liderou um pequeno exército de apenas 300 homens na Batalha de Termópilas contra um exército infinitamente maior, com milhares de escravos, liderado pela crueldade de Xerxes, o Rei da Pérsia — hoje Irã.
Ao fim e ao cabo, os 300 foram dizimados, mas até caírem resistiram por muito tempo contra todos os prognósticos, usando valentia e estratégia. Para cada espartano morto, pereceram centenas de persas. Leônidas morre, mas o comovente exemplo espartano termina por unir as cidades-estado gregas, que lá na frente derrotaria Xerxes. A analogia — ir para a guerra com um exército bem menor e vencer — ganhou força com o enorme sucesso no cinema do filme 300, uma releitura ficcional com ótima pegada pop de quadrinhos, assinada pelo diretor Zack Snyder, em 2007.
Suponho que tenha sido o filme, inclusive, volta e meia em exibição nos canais pagos, a inspiração do técnico colorado. O combalido Vitória, mesmo jogando em Salvador, nem serve para analogia com a poderosa Pérsia, mas é claro que Coudet, ao citar os 300 de Esparta, referia-se aos muitos desfalques e a maratona fora de Porto Alegre que potencializa lesões e o faz perder jogadores. Poder ser aplicada ao Grêmio também, sobretudo na Libertadores.