Já escrevi sobre o tema, mas as vozes gremistas que ouvi ainda no Maracanã, após a derrota para o Flamengo, obrigam-me a retomá-lo. Há beleza na derrota. A história contada pelos vencedores, além de não contemplar toda a verdade, não raro é chata.
É comum, ao menos no futebol, ganhar contornos ufanistas, óbvios e bregas. As histórias de desterro são mais interessantes, especialmente quando são ponto de partida para o sucesso. Há vários exemplos, mas fiquemos no mais recente.
A França, apesar das limitações que fizeram dela a campeã mais sem brilho da história das Copas, deve o título na Rússia a uma derrota. Após perder a final da Euro em casa, para Portugal sem CR7, Deschamps fez autocrítica.
Acelerou a incorporação de Mbappé. Trocou os dois laterais, apostando na juventude de Pavard e Hernández nos lugares dos experientes Sagna e Evra. Deu chance a Varane. Nenhum deles estava sequer no grupo da Euro. A França teria sucesso sem lamber as feridas da Euro?
Eis a encruzilhada do Grêmio.
Se acreditar mesmo que a eliminação para o Flamengo foi injusta e produto dos caprichos do futebol, a chance de novas derrotas aumentará. Mas, ao contrário, se reconhecer a instabilidade de rendimento após a Copa, com perda paulatina da dinâmica de meio-campo sem Arthur, cuja tradução é uma posse de bola burocrática e incapaz de produzir volume lúcido e organizado de ataque, aí o tetra da América retornará ao horizonte.
Ao levar o gol de Luan na Arena, o Flamengo foi atrás do empate pressionando, finalizando de dentro da área, perdendo gols claros entrando por dentro e pelos lados, acertando a trave e obrigando Marcelo Grohe a operar milagres.
No Maracanã, após o gol de Everton Ribeiro, a pressão do Grêmio não resultou em nada disso. Posso apostar: é para consumo externo o discurso de Renato, elogiando a atuação e mencionando até um imaginário Maracanã calado.
Se achasse que está tudo bem, Renato não mexeria em duas posições no Rio, escalando Cortez e Jailson. É mestre em tirar o foco de seus jogadores, protegendo-os das críticas. Sempre encontrou soluções inteligentes para retomar o padrão coletivo que um dia encantou o país, sem necessidade de operar cirurgias como a de Deschamps.
Uma troca aqui ali, outra ali. Ajustes. A solução do Grêmio está onde sempre esteve: em Renato.