As urgências matemáticas que envolvem o Gre-Nal deste domingo tomaram conta do Gauchão. Alguém se lembra de um clássico que terminou com a eliminação, sumária e vergonhosa, na primeira fase de um campeonato disputado por 12 clubes e no qual oito se classificam? Eu não. É o que pode acontecer no Beira-Rio com o Grêmio, combinado com o resultado do Juventude contra o Veranópolis. Os cruzamentos ainda podem nos remeter a Gre-Nal nas quartas. Durma-se com um barulho desse. Natural, portanto, que não se dê tanta atenção para o evento mais importante, histórico mesmo, deste domingo: o árbitro de vídeo.
Gre-Nal tem todo ano, salvo excepcionalidades. Já o árbitro de vídeo, não. É a primeira vez em um Estadual. E numa partida intensa, nervosa, cheia de história e com a maior rivalidade brasileira. Todos os veículos, seja qual for a plataforma, falarão do Gre-Nal com AV assim que Jean Pierre Lima encerrar o clássico. O país estará de olho no Beira-Rio. E o mundo também, de certa forma. É o Gauchão à frente da Liga dos Campeões, que ainda não adotou a novidade. A Fifa utilizará o sistema na Copa da Rússia.
Houve quem se insurgisse contra o computador, em defesa da máquina de escrever. Adiantou? TV analógica e digital. Carta com selo e e-mail (depois WhatsApp). Câmbio manual e automático. Disco, CD e download. Hoje, qualquer enquete de rádio dá mais de 80% a favor do uso da imagem no futebol. É uma geração que nasceu rodando filmes no celular. Soa ridículo assistir a um jogo e saber que o árbitro não pode ter acesso aos ângulos oferecidos ao telespectador no sofá.
Confesso que sinto certo orgulho de ver um Gre-Nal com AV. Ou VAR (Vídeo Assistance Referee), a sigla em inglês que, não duvido, ali adiante se incorpore ao nosso vocabulário, como quem deleta pensamentos ou dá F5 para se atualizar. Há alguns anos, quem o defendesse e ainda desse como exemplo o sucesso do recurso no tênis ou vôlei era alvo de chacota. Lembro de um Bate-Bola, na velha TVCOM, em que fui quase comparado a um jovem nerd que não sabia nada das malandragens do futebol, mesmo sendo um fracasso em videogame e já de cabelos brancos. O charme do futebol é a discussão de arbitragem, diziam.
Que importância tem a verdade, se a mentira é mais engraçada? O jogo vai ficar muito tempo parado. Menos do que as rodinhas de reclamação geradas por mancadas de arbitragem?
O AV não acabará com os erros de arbitragem porque será operado por pessoas. As pessoas erram. Mas é óbvio que muitas injustiças serão evitadas. O árbitro de vídeo só precisa de ritmo de jogo para ser mais eficiente, e o Gre-Nal será um passo importante nesse processo. Trata-se de uma ferramenta tão decisiva e irrevogável na luta por transparência no futebol que, mesmo se der tudo errado no Gre-Nal, ainda assim terá sido um sucesso. No mínimo, ajudará a corrigir falhas para a próxima vez.
Ou alguém volta para a máquina de escrever quando o sistema do computador cai?