No ano passado, era um dos auxiliares de Renato, no Grêmio. Repetiu a dose ao lado de Mano Menezes este ano, no Cruzeiro. Natural de São Lourenço do Sul, integra o núcleo gaúcho no futebol da Toca da Raposa. Além dele e de Mano, há Tinga como gerente de futebol. E Rafael Vieira, responsável pelo setor de análise de desempenho. Como Sóbis é um dos líderes do vestiário, pode-se falar em quinteto farrapo, com alguma licença poética. Enfim: confira parte do meu papo com James Freitas, 49 anos, casado e pai do Kauê, 12, bicampeão da Copa do Brasil na condição de auxiliar-técnico.
Como você foi parar no Cruzeiro?
O Cruzeiro me procurou na semifinal da Copa do Brasil do ano passado, através do Mano. Trabalhamos juntos na base do Inter, em 2001. Ele era técnico do sub-20, e eu, no sub-17, era auxiliar do André Luís, que hoje faz dupla com o Guto Ferreira. Estreitamos relações ali. E ainda mais em 2005. Eu estava na base gremista quando ele assumiu no Grêmio.
Você já rodou bastante por aí, certo?
Muito (risos). Andei no Metropolitano-SC, em 2009. Um pouco antes treinei o sub-20 do Juventude. Em 2010, fui desenvolver o projeto do Assis, no Porto Alegre. Voltei ao Juventude. Trabalhei com o Lisca, no Luverdense. Morei em 14 cidades. Uma delas foi Assunção, no Paraguai. Treinei o time principal do Guarani em alguns jogos e consegui vaga na Sul-Americana, à época.
Pensa em carreira solo?
Não agora. A acolhida foi ótima no Cruzeiro. Sou funcionário do clube. O Mano deve renovar contrato, e temos uma Libertadores pela frente. O trabalho com o Sidnei Lobo, que o acompanha há anos, está bem azeitado. Nós tocamos as rotinas de treino no dia a dia, e o Mano entra na estratégia, na planificação das partidas. Está dando certo.
Por que você saiu do Grêmio?
A proposta financeira foi muito boa. Vamos combinar que não dá para rasgar dinheiro nessa crise, né? Era complicado de o Grêmio cobrir, pois eu já tinha recebido uma valorização no clube. Além disso, eu queria muito trabalhar com o Mano.
E o Roger: por que ele saiu, afinal?
Disse a ele, no vestiário, após aquela derrota para a Ponte que o levou a pedir demissão, que nós tínhamos material humano para suportar aquela travessia. O presidente Romildo Bolzan também insistiu. Eu tinha convicção de que, se ele voltasse atrás, nós seríamos campeões. No Atlético-MG, ele ganhou o Estadual da gente. Foi um erro a direção demiti-lo. As equipes oscilam, é normal.
Qual o papel do Tinga, coordenador técnico do Cruzeiro?
O suporte. Ele faz o trabalho silencioso, sem holofote da mídia. Na hora das críticas, foi ele quem segurou o rojão, especialmente na perda do Campeonato Mineiro. O Tinga acredita na continuidade. Ele também teve papel relevante junto ao torcedor, sendo a voz no momento ruim. É um vencedor. Nada menos do que 16 jogadores do nosso grupo atuaram com ele. Os processos da comissão técnica e dos jogadores são com ele. É o nosso interlocutor junto à direção. A parte executiva do futebol é do Klaus Câmara.
Quando você percebeu que dava para ser campeão?
Depois daquele 3 a 3 com o Grêmio, no Brasileirão. O Grêmio era elogiado como o melhor futebol do país. Era o time a ser batido. E nós o enfrentamos sem medo, de peito aberto. Ali o time ganhou confiança, estofo. O Mano fala muito isso. Depois de alguns episódios, as coisas fluem. O nosso foi o 3 a 3.
Como o Cruzeiro eliminou o Grêmio?
Trabalhamos pelo empate na Arena. Tentamos neutralizar os pontos fortes do Grêmio no confronto. Contra a flutuação do Luan, atenção total na compactação entre as linhas. No facão do Pedro Rocha, dobra de marcação. O Henrique o vigiava quando ele vinha por dentro, deixando o fundo para o lateral.
Mas o Grêmio ganhou na Arena...
Sim, perdemos por 1 a 0, mas poderíamos ter vencido. No Mineirão, controlamos. O gol do Hudson, no Mineirão, foi treinado. A ideia era esvaziar a área, levando Kanemann e Bressan para o mais perto possível do segundo poste. Como o Renato faz marcação individual na bola parada, orientamos nossos zagueiros, que seriam acompanhados pelos deles, em razão da altura, a correrem na direção da segunda trave. A ideia era abrir espaço para Hudson ou Henrique. Deu certo com o Hudson. Sem brincadeira: treinamos essa jogada umas 30 vezes.
E os pênaltis?
Era uma possibilidade natural para nós. O Fábio é um gênio para pegar pênalti.
O fato de ter trabalhado no Grêmio ajudou?
Sim, porque eu conhecia as características. O convívio ajuda também a conhecer as limitações de cada um. Eu trabalhava cobranças de pênalti direto no Grêmio. Era comigo. Sabia o canto forte de cada um.
O setor de análise de desempenho é bom como o do Grêmio?
Muito bom. Trabalhamos em parceria com a Universidade Federal em tudo. O Rafael Vieira comanda um núcleo com outras três pessoas. Sabíamos que o Muralha, dos últimos 35 pênaltis, tinha defendido só um. E também a sequência das últimas 10 cobranças de cada jogador do Flamengo. O Fábio acertou todos os cantos.
O que será o Brasileirão para o Cruzeiro?
Estamos comemorando ainda (risos). Mas creio que é hora de dar rodagem aos mais novos, para encorpar o elenco.
Haverá contratações para a Libertadores 2018?
Já temos um diagnóstico. Mas não quero falar em posições.
Quantos reforços?
Dois ou três, no máximo
De peso?
Que agreguem de fato. Em nível de elenco, estamos bem servidos.