Ele não queria falar. Demorei um tanto a convencê-lo, já que a entrevista sairia no fim de semana. Neste sábado, o Inter tem pela frente um jogo emblemático, contra o Figueirense, que apontará se o futuro imediato será de calvário rumo à Série B ou de caminhada para escapar. Giovanni Luigi poderia ser mal interpretado no caldeirão político colorado, mesmo que tenha mantido com rigor seu reconhecido estilo de não atirar pedras no telhado alheio.
O ex-presidente deu poucas entrevistas desde que deixou o cargo, ocupado por ele durante quatro anos. Como se sabe, a reforma do Beira-Rio o colocou em rota de colisão com Vitorio Piffero, que insistia em remodelar o estádio com dinheiro próprio, sem buscar parceiros. Luigi aceitou conversar no sentido de ajudar na mobilização contra o rebaixamento. Sua presença no estádio tem significado: ele não ia ao Beira-Rio desde o fim de seus dois mandatos, justamente para evitar constrangimentos com opositores. Torcia em casa, mas atenderá ao chamado da diretoria e vai ao estádio neste sábado. Tipo mutirão mesmo. Confira a entrevista:
Por que o senhor concede poucas entrevistas?
Saí do Inter após quatro anos como presidente e muito outros ocupando cargos no clube. Entendi que era hora de deixar a nova gestão trabalhar do seu jeito. É como tento ajudar: sem criticar, sem lançar farpas, sem mandar charadas. O ex-presidente tem de ter um certo resguardo.
As divisões internas fragilizaram o Inter?
Não é o momento falar nisso. É hora de todos nós, que eventualmente tenhamos alguma questão, esquecermos tudo. Mas tudo mesmo. Temos de deixar tudo de lado, sem rancores. Sem união plena, não sairemos desta situação.
Leia mais:
Inter x Figueirense: tudo o que você precisa saber para acompanhar a partida
Nico López sente lesão e vira dúvida para partida contra o Figueirense
Funcionários do Inter fazem ato de apoio ao time antes do treino
O que significa o jogo deste sábado?
É mais mais importante do que a final do Mundial. Em Yokohama, se perdêssemos, no máximo não seríamos campeões do mundo. Agora se trata de garantir o nosso lugar no futebol brasileiro. Repito: temos de nos unir. Todos temos responsabilidade para evitar o pior.
Esse tom grave não pode pesar e virar contra?
Mas é questão de vida ou morte mesmo. Não podemos dourar a pílula. O torcedor que for ao jogo tem de emocionar os jogadores: mesmo que o time esteja mal, errando passes, não finalizando, apoiar até o fim é essencial. Que não critique. No campo, nas mídias sociais, nas enquetes de rádio. O jogador sente estas coisas. Nossa tarefa é dar suporte aos jogadores nesses jogos em casa, pois são eles que terão de evitar a queda.
Como lidar com um vestiário assim?
Passei por isso em 2002, como integrante da gestão do Fernando Carvalho. Os jogadores têm entre 18 e 34 anos. Se tu fores pensar bem, são todos muito jovens. Inclusive os chamados cascudos. É claro que eles sentem a parte emocional de um grande clube. De que adianta lotar o Beira-Rio e vaiar? A vaia, por si só, não é tão ruim. Absurdo é vaiar a escalação pelo alto falante ou durante o jogo numa hora dessas. Esses protestos violentos, por exemplo. Além de abomináveis, só atrapalham. A torcida tem de ser o pai que apoia o filho: pode discordar momentaneamente, mas ama. Ah, mas está faltando só cinco minutos e o placar segue ruim: então briga junto por um golzinho que seja. Não tem saída fora desse comportamento.
O senhor acredita mesmo que dá para escapar?
Tenho uma convicção: se sair do Z-4 não volta mais. E aí não cai. É esse incômodo de habitar a zona de rebaixamento que está arruinando a parte emocional a cada rodada. Estes jogos em casa, não só contra o Figueirense, são fundamentais para isso: sair da zona. Isso nos dará mais oxigênio e leveza.
E o time, qual sua opinião?
Minha opinião é de que temos de torcer a favor. No estádio ou fora dele. Não tem nenhuma importância o que acho do time. Temos plenas condições de escapar com este elenco.
E as trocas de treinadores?
Não importa nada disso agora, entende? Eu não estou lá dentro, não posso falar. Temos de apoiar, conforme a convocação da direção. A nossa parte nesta luta é essa.As questões que dividiram o clube podem ser resolvidas? De minha parte, sem problemas. Um ex-presidente tem de estar sempre com o braço estendido. Não guardo mágoa. Meu estilo nunca foi o de criticar, polemizar, brigar, atirar pedra. Não haveria motivo para mudar agora.
O senhor estará no Beira-Rio?
Não fui mais ao Beira-Rio após sair do clube. Por vários motivos, preferi torcer em casa, até para evitar encontros que poderiam causar constrangimentos. Aquilo de se recolher, como te falei.
Em razão das polêmicas internas sobre a reforma do estádio?
Sim, mas isso não importa mais. Passou. A vida é uma caminhada, do nascimento a morte. Estou com 57 anos. Tenho de pensar em ser feliz. Além do mais, nunca tive problema com ninguém. Se houve algum, não partiu de minha parte.
Qual o futuro do Inter?
Não tem de falar em futuro. A hora é de revogar qualquer assunto interno até os 45 pontos. Se houver envolvimento de todos, escaparemos. Evitando a queda, quem sabe passamos uma borracha em pendências aqui e ali? Seria o melhor para o Inter.
Acompanhe o Inter no Colorado ZH. Baixe o aplicativo:
Publicidade