Há um momento único em andamento no futebol gaúcho. O Interior está mais profissional e atualizado do que a Capital. Pelo menos em dois projetos, os de Brasil-Pel e Juventude. E não se trata apenas dos resultados que ambos oferecem muito além da dupla Gre-Nal, dentro de seus parâmetros.
São projetos de longo prazo, sustentados por convicções. E se você acha que não existe pressão no Bento Freitas e no Alfredo Jaconi a cada par de resultados ruins, sugiro passar uma semana acompanhando a rivalidade Ca-Ju e Bra-Pel nas duas cidades, lendo jornal, ouvindo rádio e indo ao estádio.
Este Juventude, a dois jogos de subir para a segunda divisão nacional e que acaba de eliminar o São Paulo da Copa do Brasil, não faz muito era alvo de pressões para demitir Antônio Carlos Zago. Alguns resultados ruins na Série C o aproximaram do Z-4, mas o presidente Roberto Tonietto suportou pressões. Ele sabe que não se consolida uma ideia sem conviver com instabilidade e fases ruins. Mas que projeto é esse?
Leia mais:
Atlético-MG x Inter: tudo o que você precisa saber para acompanhar a partida
CBF anuncia horários das quartas de final da Copa do Brasil
Grêmio x Chapecoense: tudo que você precisa saber para acompanhar a partida
Em essência, a valorização das categorias de base. O Juventude decidiu formar jogadores que o financiarão quando negociados. É o atual campeão gaúcho sub-20, título também conquistado três anos antes, em 2013, já como fruto da semeadura da terra. Alex Telles, atualmente no Porto, rende dividendos a cada transferência. Há um limite nunca ultrapassado na folha salarial, mesmo que isso signifique abrir mão de suas estrelas.
Após o vice gaúcho, o Juventude perdeu o volante Itaqui (Boa Esporte), o lateral-direito Helder (América-MG), o meia Bruno Ribeiro (Joinville). Não cobriu propostas. Não correu riscos de atrasar salários. Sempre haverá alguém da base para buscar, fazendo a roda girar. Só em cotas, na Copa do Brasil, outro fruto deste processo, o Juventude já faturou R$ 3 milhões.
O Brasil-Pel, com chances reais de subir para a Série A, mantém navegando o barco guiado por Rogério Zimmermann há mais de quatro anos. De cofres vazios, radicalizou. Abriu mão das categorias de base. Concentrar os vinténs que tinha na formação do time principal, para ir subindo de divisão, melhorando cotas e, aí sim, financiar a volta da base.
Assim como Zago, também Rogério poderia ter sido demitido no Bento Freitas. O Xavante habitou o Z-4 do Gauchão este ano. Não seria o caso de dar uma sacudida no vestiário, como o Inter fez demitindo Argel e chamando sua antítese, Falcão? E, não duvido, faça com Celso Roth?
Uma mexida no ambiente, como o Grêmio vem fazendo há 15 anos, gastando além da conta com ex-jogadores, como quando trouxe bondes tipo André Santos, Weliton, Cris, Fábio Aurélio ou Adriano. A conta está sendo paga até hoje, assim como a de Anderson, Leandro Almeida, Fabinho, Paulo Cézar Magalhães, Ariel e adjacências virá para o Inter. A de Forlán, aliás, já chegou: R$ 4 milhões.
Houve pressão para pedalar Rogério, enfim, mas o presidente Ricardo Fonseca e o vice de futebol Cláudio Montanelli o seguraram no Xavante. Brasil-Pel e Juventude têm algo em comum, no campo e fora dele: uma ideia. Repare que não precisa ser a mesma ideia. O Juventude apostou na base. O Xavante a revogou. Mas ambos desenharam um caminho e tocaram em frente. Por isso, estão em paz.
Qual é a ideia do Inter, que marcha para o rebaixamento?
E a do Grêmio, há seis sem dar volta olímpica nem no Gauchão?
O Interior está dando exemplo dentro de suas limitações quase intransponíveis, mas duvido que a soberba Gre-Nal permita que sirva de exemplo.