O preço da liberdade é a eterna vigilância, dizia o sábio Thomas Jefferson, que era mesmo sábio, que foi um dos pais fundadores dos Estados Unidos, que foi o redator da famosa Declaração de Independência, que foi o presidente que adquiriu da França um quarto do atual território americano, que foi tudo isso, mas que agora, 250 anos depois, vem sendo duramente criticado e, mais até, vem sendo cancelado, a ponto de sua estátua ter sido retirada da Câmara de Nova York.
Isso aconteceu porque Jefferson tinha escravos em sua fazenda na Virgínia. De nada adiantou argumentar que ele era um abolicionista convicto e que tinha planos de libertar os escravos do país inteiro, os rigorosos juízes do século 21 não levaram em conta as contingências do século 18 e o condenaram sem dó.
Mesmo assim, Jefferson continuará sendo um campeão da liberdade, tanto que pregava a atenção máxima para que ela não fosse usurpada. A liberdade é uma flor que precisa ser sempre cultivada. Essas coisas.
Isso que Jefferson dizia sobre a liberdade pode ser aplicado em diversos valores intangíveis da Humanidade. Se você quiser continuar vivendo uma vida plena e útil, não pode relaxar muito. Não estou falando nem de repouso nem de lazer, que são importantes para a manutenção da boa saúde e da criatividade, estou falando da confiança exagerada, da crença de que aquilo que foi conquistado com esforço não precisa mais de esforço para ser mantido.
É assim que morrem os impérios. Tome Roma Antiga como exemplo. Conquistou o mundo conhecido na época com disciplina e austeridade, mas, aos poucos, foi se entregando aos prazeres mundanos. A fortuna traz sofisticação, a sofisticação traz o cinismo, o cinismo conduz ao natural amolentamento de valores. Roma era dura e militar, tornou-se lassa e manhosa. E acabou.
Veja o Grêmio Porto-Alegrense. Há quatro anos, estava disputando o campeonato do mundo com o Real Madrid. Hoje, se agarra à beira do precipício da Série B. Como ocorreu essa decadência vertiginosa?
Bem, eu avisei. Assim como avisei que, se entrasse em campo com André de centroavante contra o Flamengo, em 2019, tomaria quatro gols (errei, tomou cinco), e que, se entrasse com Alisson contra o Bahia na sexta-feira passada, perderia o jogo (acertei).
Eu avisei, repito. Avisei. Venho avisando sobre essa decadência há três anos.
Durante o período de glórias e 2016 e 2017, elevei o Grêmio aos píncaros. Disse que nunca o Rio Grande do Sul formara um time com aquele estilo de jogo envolvente, macio, de toque de bola. Disse que o Grêmio poderia fazer história no futebol, se não esmorecesse, se não se deixasse levar pelas vitórias fáceis, se, em vez de se enfraquecer, como se enfraqueceu, se fortalecesse. Mas o Grêmio fez o contrário. O Grêmio se tornou frouxo, em vez de enrijecer. O Grêmio não cuidou do seu maior patrimônio, que é o futebol. Agora, sofre. Sofrerá muito mais, ainda. Está pagando o preço por não ter sido eternamente vigilante.