O advogado de Ronaldinho alega que ele não tem culpa dos delitos que cometeu por ser “um tonto”. Isto é: Ronaldinho não sabia que estava fazendo algo errado.
Não é a primeira vez que ele se esconde atrás da própria parvoíce. Existe uma crença, entre os que o defendem, no profundo alheamento de Ronaldinho, que teria sido causado por superproteção. Ronaldinho nunca teve de abrir conta em banco, fazer check-in, comprar passagem aérea ou pagar boleto. Sempre houve quem se incumbisse dos aborrecimentos da vida em seu lugar, para que ele se ocupasse tão somente do seu grande talento como jogador de futebol.
O vilão, no caso, seria seu irmão, Assis, que há décadas lhe daria maus conselhos, colocando-o em enrascadas. Apesar de tudo dar sempre em confusão, Ronaldinho jamais teria suspeitado de que algo andava errado.
Isso não seria algo impossível de acontecer. Há muitas pessoas “tontas” no mundo.
O interessante é que, em geral, com Ronaldinho se dá o oposto do que ocorre com todos os outros tontos.
Pegue, por exemplo, Garrincha. Ele só se interessava por bola, bebida e mulher. Ou seja, um tonto. Sua alienação fazia com que os outros o explorassem. Garrincha assinava péssimos contratos com os clubes e jogava infiltrado, o que acabou por estourar de vez os seus joelhos tortos. Até os amigos se aproveitavam da sua inocência, mas aí para fazer brincadeiras. Nilton Santos contava às gargalhadas uma história que se passou na Suécia, durante a Copa de 58. Garrincha havia comprado um rádio grande, bonito, do tipo que não havia no Brasil. Nilton Santos o censurou:
– Mas você é burro, Mané! Não vê que, neste rádio, eles só falam sueco? Liga pra ver!
Garrincha ligou e, de fato, a falação era toda em língua estrangeira.
– E agora? – afligiu-se Garrincha. – Os caras vão gozar de mim!
– Tudo bem, eu compro esse rádio pela metade do que você pagou, só pra salvá-lo do vexame – consolou-o Nilton Santos.
Garrincha vendeu o rádio baratinho e, emocionado, agradeceu ao amigo pelo alerta.
Houve outros gênios ingênuos no mundo. Mozart. Seus contemporâneos diziam que ele nunca deixou de ser uma criança. O filme que contou sua vida, Amadeus, mostrou um Mozart puro sendo vítima de armação de um rival invejoso, Salieri, que tanto tramou e o prejudicou que o levou à morte. Mais um: Van Gogh. Esse, coitado, vivia tão fora do mundo que sofria bullying das crianças do vilarejo francês onde morreu. Há suspeitas, inclusive, de que Van Gogh não cometeu suicídio – teria sido assassinado por jovens locais que fizeram uma brincadeira de péssimo gosto com ele.
Casos que tais podiam ser parâmetros para Ronaldinho, não fosse uma diferença: eles eram enganados; Ronaldinho engana.
Ronaldinho saiu mal de todos os clubes em que jogou. Todos. Do Grêmio, do PSG, do Barcelona, do Milan, do Flamengo e do Atlético-MG. Ele não cumpriu nenhum dos seus contratos até o fim. O Grêmio, seu alegado clube do coração, foi logrado por ele duas vezes. Além disso, Ronaldinho teve de pagar uma multa ambiental de R$ 6 milhões e acumula protestos em três cartórios de Porto Alegre. Até em pirâmide financeira Ronaldinho se envolveu.
Trata-se de um caso extraordinário e único de um simplório que passou a vida engambelando pessoas, entidades, empresas e governos. Como é possível? É um mistério. Quando vi a cena de Ronaldinho vertendo um par de lágrimas de tristeza ao caminhar algemado em direção à prisão, neste fim de semana, senti pena dele e pensei como seu advogado: é só um tonto. Quando olho para trás e revejo a história dele, penso melhor e concluo: o tonto sou eu.