As bancas do centro de Novo Hamburgo estão renovadas e resplandecentes, contou-me o Beto Nielsen. Fiquei feliz.
O Beto Nielsen é jornalista. Trabalhamos juntos no Jornal NH quando o editor-chefe era o Emanuel Mattos, grande amigo, que já morreu. Na época, o jornal não tinha lancheria, nem cafeteria, nem nada. Então, lá pelo fim da tarde nos assaltava, a todos nós, repórteres e editores, uma fome antiga, como diria o deputado Pinheiro Machado. Por coincidência, mais ou menos nessa hora as luzes da redação eram apagadas por uns 10 segundos para troca de gerador ou coisa que o valha.
Era um grito primevo, ancestral, um grito que vinha da alma, que clamava, também ela, não apenas o estômago, por pizza.
Aí, nós gritávamos “pizza”.
Sério. Era um grito primevo, ancestral, um grito que vinha da alma, que clamava, também ela, não apenas o estômago, por pizza.
Confesso que fui eu quem começou aquilo. Um dia, as luzes se apagaram e eu, já faminto, aproveitando-me do anonimato da escuridão, gritei bem alto:
– Pizza!
Todo mundo riu.
No dia seguinte, repeti:
– Pizza!
E os outros ecoaram:
– Pizza! Pizza! Pizza!
Tornou-se uma tradição. Sempre que as luzes se apagavam, ou, às vezes, mesmo que não se apagassem, alguém gritava:
– Pizza!
Não era uma reivindicação. Não era um protesto. Era mais uma forma de expressão, praticamente uma manifestação artística:
– PIZZA!!!
Eu era repórter especial. Assim, estava sempre fazendo matéria na rua. Por isso, podia ir às bancas do centro no meio da tarde, e ia a fim de evitar, exatamente, a fome do anoitecer.
Contei a história do meu lanche naquelas banquinhas nesta semana, no Timeline Gaúcha. Causou rotunda repercussão a minha história, devido ao cardápio. É que eu pedia o seguinte: uma fatia de pão caseiro de dois dedos de espessura, encimada por uma camada de schmier e outra de nata, tendo sobre elas, dispostas lado a lado, rodelas de salsichão. Para acompanhar, uma caneca generosa de café com leite.
Oh, como era bom!
O café da tarde, já disse e repito, é um hábito civilizatório que nós perdemos miseravelmente.
Havia outra razão para eu gostar tanto daquela composição aparentemente contraditória, schmier, nata e salsichão. É que lembrava do meu avô, o velho sapateiro Walter, que, como bom representante da colônia alemã, adorava misturar doce com salgado nas refeições.
Assim, encostado no balcão de um dos quiosques do centro de Novo Hamburgo, eu desferia uma decidida dentada no pão e me vinha à memória a imagem do meu avô sentado à mesa do jantar, diante de um prato de comida fumegante e aromático. A minha avó, então, fazia aterrissar ao lado dele uma compota de pêssego ou figo em calda que ela mesma havia preparado. O meu avô abria o vidro, metia lá dentro uma colher e colhia o caldo doce, que espalhava sobre o arroz. Eu ficava fascinado, olhando aquilo. Um dia, experimentei. Bem. Não posso dizer que seja o meu prato preferido, mas ruim não é.
Em todo caso, eu mesmo, com minhas próprias mãos, inventei uma iguaria que mistura sabores doces e salgados e, como sou generoso, vou partilhá-la com você. É simples de fazer. Porém, como diria Da Vinci, a máxima simplicidade é a máxima sofisticação.
Vamos lá.
Ingredientes
Bananas
Canela em pó
Manteiga
Queijo gouda
Modo de preparo
1. Arranque do cacho quatro bananas, de preferência já maduras e no entanto ainda douradas, como se apresenta hoje a Jennifer Aniston.
2. Amasse as bananas criteriosamente com um garfo.
3. Coloque a frigideira no fogo e, sobre a superfície da frigideira, um tablete de manteiga do tamanho de uma caixa de fósforos Pinheiro.
4. Quando a manteiga estiver derretida, acrescente a banana. No momento em que ela estiver da cor do chope que é servido no Posto 6 de Copacabana, polvilhe a canela.
5. Em seguida, cubra a banana com finas fatias do queijo gouda e misture docemente, para fazer com que o queijo derreta.
6. Espalhe sem pejo ou economia esse amálgama sobre uma fatia de pão.
7. Coma com café preto.
8. De nada.
Depois de experimentar essa guloseima que lhe dou de presente, faça uma saudação ao meu avô, aos quiosques do centro de Novo Hamburgo e a todo aquele para quem basta uma boa refeição para ser feliz.