O pinguim, quando está apaixonado, convida a fêmea para passear na praia. Eles caminham lado a lado pela areia, ela faceira, ele olhando para baixo, como se estivesse procurando algo. E está mesmo. Está procurando a pedra ideal. De repente, encontra-a e a oferece para a pinguinha. Ela analisa o presente detidamente. Se recusa, o pinguim foi rejeitado. Ele vai embora, cabisbaixo, chateado, com aquele jeito engraçado de andar dos pinguins. Mas, se ela pega a pedra, gol do Brasil. Eles começam a namorar e nunca mais se separarão.
Meu filho descobriu isso sobre os pinguins, dias atrás, e veio falar comigo:
– Papai, tenho uma dúvida.
– O que foi, guri?
– Qual foi o primeiro pinguim que inventou essa tática da pedra? Tem que ter um primeiro, não é? Ele fez e os outros imitaram, e continua assim até hoje.
Fiquei refletindo. É provável que ele tenha razão. Deve ter existido um pinguim pioneiro, que conquistou a amada oferecendo-lhe uma pedra, e os outros acharam boa ideia. Porque, afinal, dar uma pedra para a pinguinha não parece um ato instintivo, como comer, beber e fazer sexo. Há bichos que se exibem para as parceiras em danças de acasalamento, outros cantam e o pavão abre aquele rabo dele, mas uma pedra é algo externo. É um instrumento, pode-se dizer, e só o Homo sapiens usa instrumentos.
Sim, houve, um dia, um pinguim genial, que moldou o comportamento de todos os outros pinguins do mundo.
Um país em que procuradores planejam matar juízes dentro do tribunal não é um país confiável.
É verdade que as nossas fêmeas também gostam de pedras, tanto que o ritual tradicional do pedido de casamento humano é bastante semelhante ao dos pinguins: o macho oferece um anel com uma pedra bem cara engastada e, se ela aceita, começou o compromisso. Mas nós temos o irritante hábito de subverter hábitos. As coisas são feitas sempre de um mesmo jeito e volta e meia aparece alguém para mudar tudo. Por que tanta inconstância. Por que não podemos ser previsíveis como os animais? Tudo seria mais fácil. Nós sempre saberíamos o que fazer. E, o melhor, não precisaríamos de governantes, legisladores ou juízes. Porque os costumes seriam as leis, como era antes, nos primórdios da civilização. Algo acontece e você já sabe qual será a consequência, sem discussões, sem sobressaltos. Seria útil no mundo inteiro, mas muito mais no Brasil. Porque, puxa, um país em que procuradores planejam matar juízes dentro do tribunal não é um país confiável.
O dromedário triste
Meu filho estava atento às ocorrências do mundo animal, nesta semana. Logo depois de descobrir os estratagemas românticos dos pinguins, contou-me sobre um caso assombroso: uma mulher deu uma mordida nos testículos de um camelo na Louisiana.
Na verdade, não era um camelo; era um dromedário – o camelo tem duas corcovas e o dromedário apenas uma.
Primeira pergunta: o que um dromedário estava fazendo na Louisiana? Isso é fácil de responder: estava confinado em um pequeno zoológico de estrada.
Pois bem. Deu-se que a tal mulher, seu marido e o cachorro do casal, que é surdo, foram ver Casper no zoo (Casper é o nome do dromedário). Eles gostaram tanto de Casper que começaram a jogar comida para ele. O cachorro, que devia estar com fome, considerou a comida apetitosa e entrou na jaula, com a evidente intenção de partilhar com Casper o seu lanche. Temendo que Casper se assustasse e fizesse mal ao cachorro, o casal o chamou. Mas o cachorro é surdo e não atendeu. In extremis, o casal invadiu a jaula de Casper, que, aí sim, se assustou.
Segunda pergunta: como reage um dromedário assustado? Essa não é tão fácil de responder, mas nós descobrimos graças ao casal invasor de jaulas, porque Casper avançou sobre a mulher e SENTOU-SE EM CIMA DELA. Oprimida sob o peso do grande animal, sentindo que seria inapelavelmente amassada, a americana reparou que, bem diante dela, balançava o saco escrotal do dromedário. Então, ela não teve nojo nem pejo. Simplesmente abriu a mandíbula o mais que pode, abocanhou aquele escroto imenso com denodo e desferiu uma VIOLENTA DENTADA nos testículos do dromedário, que, compreensivelmente, ganiu e urrou e levantou-se para escapar da dor excruciante.
Apesar de tão traiçoeiro ataque, o dromedário passa bem. A mulher, ao contrário, foi internada em um hospital próximo, porque a sentada do bicho a molestou. O casal foi processado por invadir a jaula de Casper e por passear com o cachorro sem coleira. E nós, que ensinamento tiramos dessa inusitada história? Que o inimigo pode nos imobilizar quase que completamente, que ele pode ser maior, mais pesado e mais forte, mas sempre terá um ponto fraco a ser explorado, se nós tivermos tirocínio e bons dentes.