— As russas são bonitas?
Foi a Marcinha quem perguntou, por telefone. Quando a sua mulher pergunta se outra mulher é bonita, os mais graves sinais de alerta devem soar em seu cérebro. É preciso tomar muito cuidado com a resposta. Mas, no caso, senti que não havia malícia; havia curiosidade legítima. Fui sincero:
— São.
— Muito bonitas?
Hesitei um pouco ante essa insistência, mas confirmei:
— Bastante.
Ela fez silêncio por cinco segundos. Depois arrematou:
— Mais do que as brasileiras?
Pensei um pouco. Seria algum tipo de cilada? Concluí que não. E mais uma vez disse a verdade:
— Empate técnico com as gaúchas.
Aparentemente, ela ficou satisfeita com a minha avaliação. E, olha, fui honesto. Tenho dito o mesmo a todos os que me perguntam a respeito, e muitos me perguntam a respeito. É que as russas são famosas por sua beleza, e não por acaso. Irina Shayk, você já sabe, é a mulher mais bonita do mundo. Neste nosso terreno esportivo, rebrilham as loiras Anna Kournikova e Maria Sharapova, além da morena Yelena Isinbayeva, com aqueles seus olhos lilases dos quais, uma noite, fiquei a palmo e meio de distância, durante uma entrevista na Olimpíada de Pequim.
A graça das mulheres russas já vitimou um dos mais importantes filósofos da história: Nietzsche apaixonou-se desesperadamente por Lou Andreas Salomé, propôs-lhe casamento e tudo mais, mas ela só queria amizade. Resultado: Nietzsche rompeu com Salomé e passou o resto da vida formulando frases como:
"Fiquei magoado. Não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te".
Ou:
"O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são".
Ou ainda:
"Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher ama, porque ela não recuará diante de nenhum sacrifício e tudo o mais para ela não tem valor. Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher odeia, porque o homem, no fundo de sua alma, é malvado. Mas a mulher, no fundo da sua, é perversa".
O despeito do filósofo foi tão profundo, que, uma manhã, em Turim, ele olhou pela janela do seu apartamento e viu um cavalo sendo espancado brutalmente pelo dono. Saiu correndo de casa, espantou o homem aos gritos, agarrou-se ao pescoço do cavalo e começou a chorar como um Neymar. Em seguida, desmaiou de emoção. Quando voltou a si, não voltou a si: apenas balbuciava frases sem sentido. Nunca mais se recuperou. Há quem diga que isso aconteceu por causa de uma sífilis. Bobagem. Essa doença chamava-se Lou Andreas Salomé.
Há que se ter cuidado com as mulheres russas.
O curioso é que, se você observar as russas e os russos e não souber que eles vêm do mesmo país, achará que se originam de povos diferentes. Ambos são reservados, é verdade. Russas e russos não são dados a sorrisos fáceis. Mas as russas são delicadas e sofisticadas, enquanto os russos parecem ter sido desenhados com pressa — são grandes, branquicelas e têm um ar levemente hostil, como se todos fossem zagueiros da colônia gaúcha. Creio que não seja por mal. É por causa da língua. Mesmo em metrópoles, como Moscou e São Petersburgo, quase ninguém fala inglês por aqui. Assim, para evitar constrangimentos, os russos se mantêm a distância. Na dúvida, fecham-se.
Fico pensando se isso não acontece também conosco. As brasileiras, belas como são, encantando o mundo. E nós, homens do Brasil, sendo meros espécimes mal-acabados, com os quais elas se resignam, antes de se satisfazer. Será que é assim? É possível. Suponho que, para descobrir, só mesmo perguntando aos russos.