Não foi Jael quem cobrou aquela falta, aos 17 minutos do segundo tempo. Foi Éder, que tinha uma espingarda na canhota; foi Nelinho, que batia de revesgueio com a direita; foi Roberto Rivellino, o Patada Atômica.
Também não foi Marcelo Grohe quem fez aquela defesa inverossímil a dois metros do chute de Dourado, no fim do jogo. Aquele só podia ser Eurico Lara, o craque imortal.
Foi assim, graças aos seus talentos quase sobrenaturais, que o Grêmio tocou 3 a 0 no Inter, neste domingo (18), na Arena.
Com Arthur, o meio-campo do Grêmio ganhou fluência. Com ele, tudo tinha lógica e clareza. Aí, sim, a superioridade do Grêmio se afirmou.
E isso que Renato errou. Escalou um time vagaroso, que avançava como um paquiderme para o campo de ataque e, chegando lá, perdia a bola porque seu atacante mais agudo, Jael, é um jogador de jogo bruto – quando tem que dar um passe de cinco metros, precisa virar toda a sua imensa região glútea para o lado em que pretende enviar a bola.
Assim, Jael trancava o ataque do Grêmio, enquanto os volantes Jailson e Maicon, pesados como carros alegóricos, truncavam a evolução do meio-campo.
Por isso, o Inter dominou o jogo no primeiro tempo. Só não saiu ganhando porque, lá atrás, o Grêmio tem o trio de ferro: Marcelo Grohe, Kannemann e Geromel.
Essa solidez defensiva segurou o empate durante 46 minutos do primeiro tempo. Aos 47, a categoria dos jogadores de frente entrou em ação: Luan, sempre insinuante, descobriu uma fresta por onde meter a bola para Ramiro, dentro da área, e Ramiro mandou um passe rasteiro, em diagonal, que encontrou Everton: 1 a 0.
Esse gol mudou tudo. O Inter, agora, tinha de atacar com muito mais volúpia. Tinha de se abrir. Até aquele momento, a estratégia de Odair era óbvia, mas funcionava: Luan, o jogador mais perigoso do Grêmio, era derrubado em revezamento. Isso amarrava o meio-campo do Grêmio. No ataque, os jogadores do Inter insistiam na bola aérea. Os levantamentos e escanteios se sucediam e Marcelo Grohe teve de fazer três grandes defesas. Deu-se um fenômeno raro no futebol: o Grêmio goleou e seu goleiro foi o melhor em campo.
Até porque, no segundo tempo, quando teve de jogar o jogo jogado, o Inter fracassou. O Grêmio passou os primeiros 15 minutos com a bola, cercando a área, acicatando, machucando a defesa colorada. Se Jael não fizesse, outro ia fazer. Mas Jael, o Patada Atômica, fez. Levando 2 a 0, talvez o Inter pudesse descontar, se tivesse energia para reagir como reagiu no último Gre-Nal: no upa-upa, com força, empurrando praticamente a ombraços o Grêmio para a sua área. Só que aí Renato corrigiu outro de seus erros: colocou Arthur em campo.
Com Arthur, o meio-campo do Grêmio ganhou fluência. Com ele, tudo tinha lógica e clareza. Aí, sim, a superioridade do Grêmio se afirmou. Nada mais justo do que o próprio Arthur marcar o último gol. Enquanto ele comemorava, Renato gesticulava para os jogadores, gritando:
– Acabou o jogo! Acabou o jogo!
Na quarta-feira, o Inter entrará no Beira-Rio com gana. Isso ficou claro já no final do jogo deste domingo, quando D'Alessandro retirou Fabiano da entrevista, na zona mista. Os colorados estão brabos. Será o suficiente?