Hoje, o Wendell Ferreira, do Esporte da Zero, me pediu um texto no qual deveria responder como o Inter se sairia na Primeira Divisão se jogasse com esse time de hoje.
É claro que se sairia bem.
O Inter tem time, sim, para jogar na Primeira Divisão, inclusive desde que caiu para a Segunda.
Mas caiu.
Por que caiu?
Por causa do Grêmio.
Foi o Grêmio quem rebaixou o Inter.
Antes que os colorados comecem a xingar minha mãezinha, dona Diva, explico. O time do Inter, no ano passado, não era tão ruim a ponto de ficar 14 partidas sem vencer, como ficou, nem era tão ruim a ponto de remanchar nas últimas colocações por mais de dois terços do campeonato, como remanchou. Além disso, não havia sinais explícitos de revolta no grupo de jogadores: os salários estavam em dia e, se existiam problemas financeiros, nenhum deles era tão grave a ponto de se infiltrar no vestiário.
Mas um time, qualquer time, para vencer, precisa de um ingrediente mais do que de todos os outros: concentração.
Olhe para o Grêmio hoje. Não foi apenas a venda de Pedro Rocha que fez o time despencar de rendimento. Foi a desconcentração. De repente, pequenas questões começaram a desviar o Grêmio do rumo seguro que seguia: a dúvida sobre como tratar o Campeonato Brasileiro, o acúmulo de competições, a derrota para o Corinthians, os pênaltis perdidos, a demora da renovação de Luan... Foi esse conjunto de contingências que distraiu o grupo do Grêmio, e ninguém ganha quando está distraído, nem no futebol, nem no tênis, nem no boxe, nem no xadrez, nem na vida.
Já o Inter de 2016 tinha um só foco: não cair para a Segunda Divisão. O problema é que o objetivo de não fracassar é muitíssimo mais pesado do que o de ter sucesso, sobretudo se o fracasso é mais do que um fracasso: é uma desgraça.
Grêmio e Inter, já disse e repito, vivem um para o outro, existem um para o outro, espelham-se um no outro.
Pois foi assim que o Inter encarou a possibilidade de rebaixamento: como a maior desgraça que poderia ocorrer com o clube. E, por Inter, que digo, é a instituição inteira: dirigentes, torcida, funcionários e jogadores.
É claro que a ameaça da Segunda Divisão é aterradora para todos os clubes grandes, mas, no caso do Inter, havia um elemento mais perturbador: a queda significaria a perda de um argumento importante no debate com os gremistas.
Grêmio e Inter, já disse e repito, vivem um para o outro, existem um para o outro, espelham-se um no outro. Quando D'Alessandro estava para ser contratado, Fernando Carvalho viajou para Buenos Aires, sentou-se em frente a ele e explicou:
– É o seguinte: lá, nós temos que ganhar do Grêmio. O importante é ganhar do Grêmio.
Certíssimo. D'Alessandro compreendeu essa realidade e, desta forma, transformou-se em uma lenda no Rio Grande do Sul.
É assim, sempre foi assim: quando o colorado brande D'Alessandro, o gremista responde com Renato Portaluppi. Cada conquista de um clube serviu para que, com ela, o torcedor espezinhasse o torcedor do outro clube. Os dois foram crescendo nessa emulação. De repente, tornaram-se campeões do Estado, do Brasil, da América e do Mundo. Eram iguais nos triunfos, mas diferentes no malogro: o Grêmio havia caído para a Série B, e o Inter, não.
Então, a queda do Inter representava a perda de um galardão. Era insuportável. Imagine, agora, os jogadores ouvindo a todo momento, de todo mundo, que o Inter NÃO PODIA cair.
Foi essa angústia que contaminou o vestiário e cimentou as chuteiras ao solo. Foi essa angústia que roubou a concentração dos jogadores do Inter. Não tenho nenhuma dúvida: é o tamanho da rivalidade que eleva a dupla Gre-Nal aos píncaros. Mas, quando um deles cai de tal altura, a dor é muito maior.