Itamar Franco montou um ministério de notáveis, cercou-se dos mais competentes economistas do Brasil e assim salvou o país da inflação e permitiu a estabilidade dos 20 anos seguintes. Tudo isso graças à capacidade de escolher bem os auxiliares, sim, mas também graças às suas condições pessoais.
Um mau governante rodeado de bons assessores muitas vezes faz um péssimo governo.
Nero, por exemplo, estava ombreado de dois dos mais talentosos homens de seu tempo: o escritor Petrônio e o filósofo Sêneca. Petrônio, autor do romance Satíricon, exercia o curioso cargo de "árbitro da elegância" da corte. Era homem de bom gosto e bons conselhos. Mas Nero acabou dando ouvidos a intrigas e decidiu eliminá-lo. Petrônio se antecipou e abriu as próprias veias durante um jantar com os amigos, morrendo lentamente, em meio a brindes com vinho italiano e conversa amena em latim. Esta cena aparece em Quo Vadis?. Enquanto desfalece, Petrônio dita uma carta para ser enviada ao imperador. Nela, diz que perdoa todos os crimes de Nero, mas não sua má poesia. A cena seguinte, de Nero-Ustinov recebendo a carta, é histórica.
Mas o personagem mais interessante desse naco de tempo do império romano é Sêneca. Sua filosofia varou o pó dos séculos e surge hoje como um sistema, mais do que sábio, útil. Porque Sêneca desenvolveu uma filosofia sobre como viver bem.
Sêneca dizia o seguinte: se você teme que algo de ruim possa lhe acontecer no futuro, não vacile. Esteja ABSOLUTAMENTE CERTO de que algo de ruim pode mesmo lhe acontecer no futuro. Você sempre deve acreditar na viabilidade do pior. Se pensar assim, ficará alegremente surpreso se lhe sobrevier o melhor. E ficará cautelosamente preparado se, de fato, vier o pior.
Trata-se de aceitação, não necessariamente de conformação, porque você pode trabalhar para evitar o pior, se isso for possível.
Sêneca, embora tenha sido o tutor de Nero, ou até por isso, conhecia sua personalidade destrutiva e sabia que logo chegaria sua vez. Chegou. E, como Petrônio, ele abriu as veias e deixou-se morrer serenamente, como se vencido pelo sono.
A aceitação trouxe-lhe tranquilidade. Trará também a você, porque você não se preocupará com o futuro. Não sentirá medo. Sêneca gostava de repetir duas frases:
"O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais do que o necessário".
E:
"Nada mais nocivo ao ser humano do que antecipar a desgraça".
Aceitando que a desgraça pode realmente acontecer, você não sofrerá antes, nem a antecipará. Você viverá o dia, o que é o mais inteligente que um homem pode fazer.
Vamos, portanto, seguir Sêneca. Vamos reconhecer que um desses candidatos bizarros à Presidência que ora se apresentam pode ser eleito no ano que vem. Vamos compreender que o Brasil jamais se libertará do populismo e que, por isso, permanecerá dividido entre "eles" e "nós". Vamos nos resignar com Bressan na zaga e dizer a nós mesmos que, sim, o Grêmio pode ser eliminado pelo Cruzeiro nesta quarta (23).
Ou não.