Vi o Evaristo Costa se despedindo do público no Jornal Hoje. Ele vai tirar um ano sabático, ou coisa que o valha. Foi uma despedida rápida, sem dramas. Ele apenas comunicou que nesta quinta (26) fez seu último jornal, disse até breve e apertou a mão da colega apresentadora, Sandra Annenberg, que, ela sim, pareceu lidar com alguma emoção contida.
Esse Evaristo dá a impressão de ser uma das poucas unanimidades nacionais, senão a única. Nem o Temer é unanimidade – segundo a última pesquisa, 5% dos brasileiros ainda gostam dele.
Neste tempo de crítica corrosiva e caudalosa, ser unanimidade positiva é uma façanha.
Como ele consegue?
Pelo riso.
Evaristo Costa é um sujeito que sabe rir. Antes dele, só lembro de uma pessoa que tinha poder igual: Maria do Carmo, que por quase 20 anos apresentou o Jornal do Almoço. O riso de Maria do Carmo fazia o telespectador mais feliz.
Evaristo consegue a mesma mágica, porque seu sorriso não é protocolar; é sincero. É um sorriso inocente, sem segundas intenções, um sorriso de criança, de quem gosta da vida.
O riso de Evaristo, como o de Maria do Carmo, contagia. O riso é contagiante. Mesmo.
No começo dos anos 1960, uma epidemia de riso espalhou-se por Tanganica, atual Tanzânia, espantando médicos e cientistas do mundo inteiro. A epidemia estourou em uma escola. Três meninas começaram a rir sem parar e logo metade das alunas estava gargalhando incontrolavelmente. Elas foram mandadas para casa naquele dia. No seguinte, voltaram rindo e rindo continuaram. O surto de gargalhadas derramou-se pela cidade e, em seguida, por todo o país. Os habitantes de Tanganica riam, riam sem parar, curvavam-se de rir, riam até chorar, riam que lhes doíam a barriga e os maxilares e a cabeça. Mais de mil pessoas foram afetadas, quase todas mulheres jovens. A epidemia só parou depois de quase três anos. Ninguém conseguiu descobrir o que exatamente aconteceu. Psiquiatras suspeitam de histeria coletiva.
O certo, porém, é o que já disse: riso pega.
O riso desarma eventuais desafeições e suaviza relacionamentos. Você já chega rindo e a pessoa, instintivamente, sente: esse cara gosta de mim.
Digo mais: o riso muda também de dentro para fora. Basta o ato físico do riso para transformar a alma. Digamos que você esteja triste. Comece a rir, ria bastante, gargalhe. Em pouco tempo, sem nenhum outro motivo, a tristeza se vai.
O homem é o único animal capaz de rir. Ou seja: o riso é produto da inteligência.
No denso romance noir O Nome da Rosa, de Umberto Eco, um livro perdido que Aristóteles teria escrito sobre o riso é o centro da trama. Não vou contar o resto, para não dar spoiler, mas saiba que, pelo raciocínio de Umberto Eco, o riso é tão espetacularmente humano, que afrontaria o próprio Deus.
Realmente, quem sabe rir, como Evaristo e Maria do Carmo, tem um dom divino. Ria, pois, bem-humorado leitor, ria. Ria das aventuras e das desventuras do dia, ria do bom e do ruim, ria de você mesmo e da vida. A vida vai sorrir para você.