Para quem gosta de esperteza, Joesley Batista é um Mozart. Agora mesmo, está outra vez enganando toda a população que se estende do primeiro meridiano do Hermenegildo ao último setentrião de Macapá. Não duvido que tenha voltado ao Brasil só para conceder a entrevista que excitou o fim de semana dos brasileiros.
Há quem acredite que Joesley está tentando proteger Lula. Bobagem. Esse tipo de homem não alimenta lealdades.
Joesley tampouco é inimigo de Temer ou Aécio. Não levem para o lado pessoal.
O que Joesley quer é salvar sua empresa e sua fortuna do vendaval judicial que se aproxima e, na operação de salvamento, Temer e Aécio surgiram oportunamente como instrumentos. Temer e Aécio, dois políticos ladinos (aviso: é um eufemismo), foram os manés de Joesley, que armou ciladas contra eles apenas para se livrar. Eles caíram porque, por acaso, ocupavam o poder, não porque Joesley os odeia ou porque se transformou em patriota temporão.
A intenção de Joesley é tirar do centro do debate os empréstimos amigos que ele obteve junto ao BNDES. Alguém pode argumentar que foram vários os empresários que conseguiram bons empréstimos no BNDES durante vários governos, não só os do PT. É verdade, mas um Odebrecht não é como um Batista. A Odebrecht, mesmo que tenha crescido exponencialmente nos governos Lula e Dilma, já era grande antes deles e já tinha sua influência nos intestinos do poder. A JBS, não. Em 2006, a JBS faturava menos de R$ 4 bilhões. Dez anos depois, faturou R$ 170 bilhões. Pergunte a qualquer empresário o que ele acha desse crescimento num mercado antigo, como o da proteína animal. Pergunte se ele acredita que isso pode se dar dentro da lei.
A propósito da lei, a Operação Bullish, da Polícia Federal, está tentando levantar o volume de recursos recebidos pelos Batista do BNDES. Não é tarefa simples. As transações foram múltiplas, em nome de diferentes empresas. Durante apenas três anos, de 2007 a 2010, a JBS engoliu mais de R$ 8 bilhões em dinheiro barato. Esses valores foram usados para investimentos... nos Estados Unidos! Entre as dezenas de empresas que os Batista compraram no Exterior está, por exemplo, o famoso Grupo Swift. Hoje, os Batista pagam impostos e dão empregos aos americanos, financiados pelo contribuinte brasileiro.
Joesley tocou meio que lateralmente nesse assunto dos empréstimos em suas entrevistas e delações. Alegou que não tinha facilidades diretas com o banco e atirou toda a responsabilidade no colo do ex-ministro Mantega, que, segundo ele, recebia fortunas em propina para repassar ao PT. Em troca, Mantega faria pressão na direção do BNDES a fim de liberar os financiamentos.
Desta forma, Joesley admite que se beneficiou dos empréstimos, mas frisa que foram regulares. É essa a jogada.
Joesley tirou o BNDES de cena e, em seu lugar, colocou Temer e Aécio. Não há urgência maior do que um presidente da República em queda, sobretudo um presidente impopular, que só tem apoio do fisiologismo do Congresso, como é o caso de Temer. Joesley planejou o golpe em Temer porque sabia que ele era um pitéu irrecusável para o Ministério Público. Tenho a impressão de que Aécio foi acrescentado ao cardápio meio que de forma aleatória. Joesley aproveitou-se da conveniência de um dos achaques de Aécio e o serviu como sobremesa.
O Brasil, assim, discute Temer, Lula, Aécio e Mantega, enquanto Joesley está em casa, guardado por Deus, contando o vil metal. É um homem prenhe de talentos. Por que você acha que ele conquistou o coração da bela Ticiana?