O nosso problema não é dinheiro. O nosso problema é moral.
A eventual falta de dinheiro complica as coisas, verdade, mas há outros lugares com menos dinheiro e menos dramas.
Seria um defeito congênito das nossas lideranças, talvez? A podridão da elite branca?
Se for, temos também de admitir que as nossas lideranças têm liderança de fato, porque o país inteiro se esforça para imitá-las. Nunca na história do mundo um péssimo exemplo funcionou tanto.
A semana da morte de Marisa Letícia demonstrou com chocante clareza essa característica nacional. Marisa estava agonizante, no hospital, e todos eles se reuniram ao pé do leito, a fim de tramar em harmonia. Todos: Lula, Fernando Henrique, Temer, Sarney, Calheiros. Não havia discordância ali, não havia ninguém chamando ninguém de golpista ou de petralha ou fosse o que fosse. Estavam unidos e solidários não pela morte da companheira de um deles, mas no propósito maior de sufocar a Lava-Jato. É essa a obsessão dos líderes da política nacional hoje em dia: escapar da Justiça.
No mesmo hospital em que Marisa Letícia morria, médicos se comportavam sem ética alguma, tornando públicos inclusive os exames pelos quais ela passou. E fora do hospital, nas redes sociais, uma multidão manifestava sua profunda infelicidade, festejando a morte alheia, expelindo o fel da sua incapacidade de sentir compaixão.
Enquanto isso, no Espírito Santo, uma polícia que, como todas as demais do país, é malpaga, maltreinada, mal-equipada e maltratada, e tem, por isso, todas as razões para protestar, perdia completamente a razão com a forma como protestou, promovendo um movimento em que chantageava a população, fazendo uma greve ilegal que deixava a cidade à mercê da violência.
E a população, por sua vez, aproveitou-se da greve e saiu às ruas feito horda para saquear lojas e supermercados, comportando-se como os criminosos dos quais tem medo e contra os quais pede proteção.
Tudo isso numa única semana. Pobres, ricos e remediados, políticos, policiais e bandidos, brancos, negros, cafuzos e mamelucos, brasileiros de todas as procedências, todas as idades e todas as religiões, sem nenhum valor que não seja a sua vantagem e a sua conveniência, brasileiros diferentes entre si, mas com algo em comum: a falta de decência.
A falta de moral.
A economia está melhorando. A inflação desabou, o dólar caiu, logo as empresas vão se recuperar e voltar a contratar. O Brasil é grande e forte, tem uma indústria variada, uma agricultura e uma pecuária poderosas, uma população que trabalha. Mas não é a prosperidade que faz uma nação. Não é a justiça social. Não é nem a democracia. É o respeito.
Quando as pessoas se respeitam, quando os valores que movem um país são imateriais, tudo que é material é possível.
Quando os valores são materiais, tudo o que é sólido se desmancha no ar.
Dê uma pensão de R$ 5 mil por mês a cada brasileiro por toda a sua vida, e os problemas do país não vão diminuir. Talvez aumentem.
Não é o dinheiro o problema do Brasil. Não são os direitos que o brasileiro acha que deveria ter. São os deveres que ele acha que não tem.