Tenho meu próprio método de prever o futuro, e é muito eficiente. Sempre funciona. Mas há certas regras que têm de ser cumpridas. Em primeiro lugar, devo fazer uma pergunta que exija resposta simples: sim ou não. Nada de questões complexas, tipo qual será a cotação do dólar no ano que vem ou em que ano ficará pronta aquela obra da Avenida Ceará.
Outra: tem de ser uma espécie de epifania. Olho para algo e SINTO: isso me dirá a verdade imutável a respeito do futuro. Um clássico é a bola de papel atirada na cesta de lixo. A cesta está a quatro metros de distância, trata-se de um arremesso difícil. No basquete, valeria três pontos. Examino a bola de papel em minha mão e a cesta lá adiante. Vou jogar. Então, surge-me como que uma iluminação e uma voz interior me avisa: "Se acertar na cesta, aquela morena de olhos verdes vai te dar bola. Se errar, desista". Aí eu atiro e... GOL DO BRASIL! Acertei. Quarenta e cinco minutos depois, o telefone toca e a voz de leite condensado da morena vem deslizando do outro lado da linha:
– E aiam?...
Agora tem o seguinte: não posso fazer uma bola de papel só para adivinhar o futuro – devo tê-la amassado espontaneamente, por necessidade. E a inspiração há de ter vindo sem planejamento prévio.
Essas lidas de profeta têm o seu requinte.
Claro que essa da bola de papel é muito simples, o ideal é quando a coisa surge de inopino, como se fosse a visão de Nossa Senhora Aparecida. Por exemplo: tempos atrás, estava no aquário de Boston com a Marcinha e o Bernardo. Em determinada seção, havia um bando de pinguins em volta de um laguinho com pedras. Por algum motivo, os pinguins se encontravam em grande atividade. Andavam daquele jeito deles de pinguins de um lado para outro, atiravam-se na água, nadavam, subiam nas rochas e atiravam-se de novo. Vi até um casal de pinguins dando beijo de bico.
Mas o que me chamou a atenção foi um pinguim que estava solitário sobre uma pedra. Ele olhava para a água, indeciso se pularia ou não. Parecia até meio triste, se é que tenho capacidade para analisar o estado de espírito dos pinguins. Aí me veio à lembrança o Tio Niba. O Tio Niba é tio da Marcinha, e é um bom amigo meu. É um gremista devotado, o destino do Grêmio tem o poder de lhe mudar o humor. Pois naquele dia mesmo havia falado com o Tio Niba por telefone e ele comentou:
– Estou preocupado com o Gre-Nal do fim de semana, David. Será que o Grêmio ganha?
À vista do pinguim, tudo se encaixou. Naquele exato instante, liguei para o Tio Niba e vaticinei:
– Estou olhando aqui para um pinguim. Se ele pular na água, o Grêmio ganha o Gre-Nal. Se não pular, ganha o Inter.
Pulou.
Foi o Gre-Nal dos 5 a 0.
Mas, para que ninguém me acuse de parcialidade, revelo que ontem mesmo estava conversando com o Professor Juninho por telefone, e o Professor Juninho é um colorado brioso. Enquanto falávamos, o Professor Juninho balbuciou:
– Será que o Inter vai cair para a segunda divisão?
No que ele pronunciou o "são" de divisão, um esquilo saiu correndo. Era um esquilo meio avermelhado, com um tom de pelo que nunca vi em esquilo. Ele corria em direção a dois grandes carvalhos fincados no meio de um parque. Aí me ocorreu: se o esquilo subir a árvore da direita, o Inter cai; se subir a árvore da esquerda, não cai. Contei para o Juninho e gritei:
– Depende do esquilo! Depende do esquilo!
– Olha o esquilo! Olha o esquilo! – ele implorou.
Olhei. O esquilo havia parado. Estava entre as duas árvores. Virou a cabeça para a da direita. Depois virou para a da esquerda. Em qual das duas árvores subiria?
Maldição, acabou o espaço da coluna. Amanhã conto o que fez o esquilo.