Quando Margaret Thatcher começou a aplicar seu plano econômico na Inglaterra, 364 economistas lançaram um manifesto repudiando-o.
Trezentos e sessenta e quatro.
Se os jornais britânicos quisessem, poderiam publicar um artigo por dia de economista criticando as medidas de Thatcher, sem repetir economista durante um ano inteiro, dando só o Natal de folga para a primeira-ministra.
Em resposta, Thatcher veiculou na TV uma campanha publicitária que tinha como principal slogan a sigla TINA. Em inglês, There Is No Alternative. Não existe alternativa.
A Inglaterra de hoje prova que Thatcher estava certa ontem. Mas, há três anos, quando Thatcher morreu, não poucos ingleses insultaram sua memória com amargura. O que é normal. Reformas como a que ela fez não são populares – milhões perdem vantagens, milhares perdem tudo. Para o conjunto do país, no entanto, o thatcherismo foi saudável.
A Inglaterra é o que é hoje graças a ela.
Thatcher formou dupla histórica com Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos. Reagan a admirava e alguns americanos me disseram que a temia. Reagan costumava repetir que ela era "o melhor homem da Inglaterra". Já os soviéticos, inimigos da primeira-ministra, apelidaram-na de Dama de Ferro. Era para ser jocoso, mas Thatcher adorava ser chamada assim.
As atuações de Reagan e Thatcher foram semelhantes, cada qual em seu lado do oceano. O ódio que foi devotado a ambos, também. Reagan, porém, fez nos Estados Unidos reformas quase tão importantes quanto as feitas por Thatcher. Os republicanos de hoje, tudo o que eles queriam era ter um Reagan no partido, ao invés de um candidato outsider com ideias que dançam entre o folclórico e o abjeto como é Donald Trump.
Reagan não tinha a mesma consistência teórica de Thatcher, era mais intuitivo do que intelectual, mas soube ser firme como ela. Ainda assim, os economistas que os atacavam jamais reconheceram que eles, economistas, estavam errados, e que os governantes estavam certos.
Essa é uma característica dos economistas – eles nunca erram. Observe o comportamento dos economistas brasileiros. Alguns, que tiveram trajetórias trágicas no Ministério da Fazenda, vivem dando opinião, e são ouvidos e respeitados como se fossem sábios.
Mas a verdade é que a economia não é uma ciência exata. Vale-se da matemática e da estatística, que são aparentemente precisas, mas é aplicada aos seres humanos, que são claramente imprecisos. Uma medida econômica depende de vários fatores imponderáveis para funcionar, porque depende das pessoas e as pessoas são imponderáveis.
Agora, o governo brasileiro tenta aprovar a tão debatida PEC 241. Nas últimas semanas, tenho lido economistas se manifestando contra e a favor. Eles apresentam dados, eles vociferam, eles são definitivos. Todos juram que estão certos em suas previsões. Mas, ao fim e ao cabo, essas opiniões alegadamente técnicas são apenas políticas.
O economista que urdiu o plano, Henrique Meirelles, havia sido indicado por Lula para ser ministro da Fazenda de Dilma. Lula gosta de Meirelles. Fosse Lula o presidente e Meirelles o ministro, o mesmo plano seria aplaudido por quem hoje o critica e seria criticado por quem hoje o aplaude.
Parafraseando aquele marqueteiro de Bill Clinton, eu diria, sobre a situação econômica do Brasil de hoje: é a política, estúpido!
De qualquer forma, lendo e ouvindo tanto os que aplaudem quanto os que criticam, formei a convicção de que o problema é real: o governo gasta mais do que devia e precisa fazer algo, antes que seja tarde demais. Vai doer. Inevitavelmente, vai doer. Porque chegamos ao ponto em que chegou a Inglaterra nos anos 1980, quando foi preciso gritar: TINA. Em resumo: não há alternativa.