Digamos que você, homem adulto, escrevesse em alguma rede social:
"Quero ver uma menina de 16 anos nua".
Só isso.
O que aconteceria? Você seria chamado de pedófilo, vergastado virtualmente, talvez até fosse processado e preso como se fosse um ex-ministro.
Certo. Mas, não muito tempo atrás, em 1987, a loirinha Luciana Vendramini foi capa da Playboy, e ela tinha 16 anos de idade.
Não lembro de a revista ter provocado comoção na época.
Luciana era Paquita do Xou da Xuxa, um programa infantil, mas com certo apelo erótico. Aquelas roupas que a Xuxa usava. Botas brancas até os joelhos, shortinho minúsculo, as longas pernas douradas eternamente expostas. E ela estava sempre cercada por meia dúzia de loirinhas. Ah, sim, havia sugestões naquilo tudo. Sugestões!
Lembrei da Luciana Vendramini porque ontem entrevistamos o Paulo Ricardo, no Timeline. O Paulo Ricardo, você sabe, é aquele cantor do olhar 43. Pois ele namorou a Luciana Vendramini exatamente nesse tempo da Playboy, quando ela estava em horário nobre. Os dois formavam uma espécie de Casal 20 do Brasil dos anos 1980. Mas não viveram felizes para sempre, separaram-se depois de alguns anos e foram para o mesmo lugar em que estavam o Belchior, o Guilherme Arantes, o Ivan Lins e o Jimmy Pipiolo.
O Paulo Ricardo retomou a carreira mais tarde, tanto que ontem ele fez show em Porto Alegre. E a Luciana teve TOC, aquela doença do Roberto Carlos. A pessoa com TOC sente-se tomada por manias obsessivas. O Roberto Carlos não dobra à esquerda, não fala palavras malignas, como "Cunha", não pode ver ninguém de marrom e só sai pela mesma porta em que entrou – não anda de ônibus em Porto Alegre, portanto. A Luciana Vendramini, a principal esquisitice dela era a duração de seus banhos diários. A moça passava horas debaixo do chuveiro. Horas mesmo, não é força de expressão: um dia, ela chegou a ficar 11 horas tomando banho. Imagine que mulher bem limpa saiu daquele banheiro.
Durante o programa, contei para o Paulo Ricardo uma história sobre aquele período de grande sucesso dele. Eu morava em Criciúma e às vezes fazíamos festas na casa do meu amigo Nei Manique, já escrevi a respeito. O que não escrevi, e escrevo agora, é que o Nei tinha um truque para angariar popularidade entre o público feminino. Ele deixava um violão na sala. Aí, um de nós, adrede combinado, pedia:
– Toca alguma coisa aí, Nei!
O Nei não toca nada de violão, com exceção de uma música. Não: de um naco de música. Mas ninguém sabia disso, então ficava todo mundo insistindo:
– Toca, toca!
Assim, ele pegava do violão, limpava a garganta e mandava ver um Paulo Ricardo:
"Havia um tempo
Em que eu vivia
Um sentimento quase infantil...".
E parava, pretextando humildade:
– Ora, não vou atrapalhar a festa com as minhas canções.
As meninas miavam:
– Aaaaaah, Neiê... Por favooooor...
Mas ele se mantinha inamovível. Um caráter reto, entende? Um homem de verdade, avesso a exibicionismos. Era o suficiente para comover até as mais resistentes.
Se só com esse meio verso o Nei se dava bem, calcule o Paulo Ricardo. Não por acaso ele namorou com a Paquita da Playboy.
Tudo isso me faz pensar de novo algo que tenho pensado de vez em quando: o que será que hoje em dia é natural mas será escândalo daqui a duas ou três décadas? Qual de nossos hábitos atuais nós encararemos com horror no futuro?
Fotos dos próprios pés na praia, postadas no Facebook?
Comida indiana cheia de curry?
Taxistas batendo em motoristas do Uber?
Brasileiros discutindo se o melhor é Miami ou Cuba?
Campeonato de pontos corridos?
Ou todas as respostas acima?
Diga lá.