A melhor notícia possível para a segurança pública é a saída da Brigada Militar do Presídio Central de Porto Alegre. Agora chamado de Cadeia Pública, o Central é o símbolo da desorganização carcerária. A Brigada sai depois de quase 30 anos. Não devido a sua competência, que, aliás, é elogiável. Sai porque a função dos policiais militares é outra, policiar as ruas. O brigadiano é treinado para fazer policiamento ostensivo, não para cuidar de presos. Deles, devem cuidar os agentes penitenciários ou, como se diz agora, policiais penais.
A força-tarefa da Brigada Militar foi criada durante o governo de Antônio Britto como resposta à crise gerada por uma fuga do Central. Alguns anos depois, como repórter, fiz uma reportagem no local, então com 4 mil presos. Passei por todas as galerias. Meu roteiro terminou na sala onde os presos se apresentavam ao juiz e ao promotor de Justiça. Antes da entrada de cada um, me chamou atenção um quadro na parede com nomes e a que facção criminosa pertenciam. Aquilo foi a síntese do que havia visto nas galerias: superlotação e descontrole. O domínio das facções e o reconhecimento do Estado de que, para organizar essa gente toda, era preciso escrever os nomes no quadro materializavam o caos. A superpopulação é ruim para nós, que estamos do lado de fora. Nesse ambiente sem controle, o preso se alia a uma facção e estende a sua relação criminosa, que extrapola o ambiente da cadeia.
As promessas sobre o Central já não me iludiam mais. Em 2008, a governadora Yeda Crusius chegou a prometer a implosão do presídio. O ex-governador Tarso Genro demoliu módulos de um dos pavilhões como sinal de que estava terminando com um símbolo ruim. O problema da falta de vagas só aumentou.
Toda vez que sugeria a hipótese da saída da Brigada Militar, a resposta era: isso tiraria o presídio de controle. O receio era grande. O temor era justificável diante da iminência de uma rebelião. Em todos esses anos, a BM ganhou muita experiência, se aperfeiçoou e deixa para os agentes penitenciários uma cadeia sem histórico de fugas. Para o bem do gaúcho, o trabalho de transição não pode parar. A Polícia Penal precisa agora acabar com as facções criminosas dentro das cadeias, pois elas são o motor da criminalidade.