Tamerlão, Átila e Gengis Khan foram vilões. O escritor Alan Massie escreveu uma série que se chama Os Senhoras de Roma e mostrou que Nero e Calígula, dois de seus biografados, não tinham apenas fama de maus. Ivan, o Terrível, da dinastia russa dos Romanov, se divertia assistindo a um urso trucidar escravos.
Drácula foi popularizado como vampiro, mas era, na verdade, um sujeito extremamente cruel, conhecido como O Empalador, dado o seu sadismo – empalava inimigos introduzindo um bastão de madeira pelo ânus até atravessar seu pescoço.
Rafael Trujillo, quando foi ditador na República Dominicana, sentia prazer em violentar meninas, costurar a boca e cortar a língua de prisioneiros. Joseph Stálin e seu auxiliar, Molotov, cansaram de matar pessoas na Lubianka, antiga prisão que atualmente sedia a KGB, em Moscou. Mao Tse-Tung foi peça chave da fome que matou milhares de pessoas na China. Não satisfeito, promoveu a Revolução Cultural, que estimulava estudantes a matar.
Mas ninguém supera Adolf Hitler em maldade, com invasões e a declaração de guerra que engolfou o mundo todo. E Hitler tinha um líder fantoche que levou sua Itália a integrar, com o Japão, o Eixo que a Alemanha liderava: Benito Mussolini. Em livro que acaba de ser lançado no Brasil, Mussolini, a Biografia Definitiva, R.J.B. Bosworth joga luz sobre a vida desse homem, que levou o fascismo ao centro do poder, em 1921, portanto 12 anos antes de o nazismo triunfar na Alemanha. E inclusive traça um paralelo entre nazismo e fascismo, mostrando como há poucas diferenças entre os dois.
Mentiroso, racista (antissemita), obcecado pelo poder, populista, egocêntrico e adúltero contumaz. Bosworth conta a história do personagem que foi tudo isso e ainda especula sobre o seu legado até os dias atuais, com a ascensão da extrema direito pelo mundo. Mussolini tinha um habito típico do covarde: a transferência da culpa. O problema nunca era atribuição dele.
Com o típico sadismo dos fascistas, Mussolini refletia sobre suas bravatas:
– Em qualquer disputa, as mentiras sempre vencem a verdade.
Conversas, comunicados e muitos documentos foram pesquisados para contar a vida do italiano, que nasceu na região da Emilia-Romanha, no norte do país.
A história do líder do movimento que começou com os Fasci di Combatimento, pequenos grupos paramilitares tidos como organização fundamental para a formação do Partido Nacional Fascista, também é recheada com cartas entre Mussolini, suas amantes e a esposa. Dissimulado, o Duce tinha a mania de ostentar inverdades. “Tratava-se de um político empenhado mais em parecer saber do que realmente saber”, escreve o autor, ao analisar Mussolini no poder.
Seus discursos conseguiram instilar nos eleitores um sentimento de amor incondicional à pátria. A devoção pelo país deveria admitir qualquer sacrifício, “inclusive a morte”. Morte foi o que pelo menos 3 mil pessoas encontraram, na onda de violência promovida pelos fascistas para chegar ao poder. Em um trecho das suas falas, Mussolini resumiu bem seu machismo e sua propensão à violência: “Mulheres falam demais e nunca resolvem nada. A pistola Browning é a única coisa que um fascista ama com amor quase carnal”.
A etapa mais importante de sua vida política se deu em Milão, mas foi a entrada triunfante na capital italiana, a Marcha sobre Roma, o evento considerado o marco de fundação do fascismo que ajudou a imortalizar a imagem de Mussolini. Sempre buscava justificativas que estimulassem o patriotismo, e, nisso, voltava-se contra o povo judeu. Sua máquina de propaganda tratava de pregar que o Duce era um “homem do povo”, porém na vida pessoal mantinha hábitos extravagantes. Ele era um nacionalista, com fartas declarações sobre a suposta supremacia do povo italiano, mas teve um final trágico cometido por conterrâneos. Foi preso e morto ao tentar escapar após a Segunda Guerra Mundial. O corpo foi exposto, pendurado numa praça de Milão, de cabeça para baixo, ao lado da amante Clareta Petacci.
Saber mais sobre Mussolini ajuda a entender a preferência dos italianos por tipos como Silvio Berlusconi e a atual primeira-ministra Giorgia Meloni. A ascensão do populismo pelo mundo é, de novo, um fenômeno recente. Para o autor, ainda são ecos atrasados do fascismo mussoliniano.