Sou bem receptivo a críticas. Acredito que sempre podemos melhorar, ajustar e calibrar nossos argumentos. Na semana passada, critiquei a idolatria a alguns políticos, vocação bem brasileira. Não retiro o que escrevi, mas recebi boas críticas provocativas, cujas ideias me inspiram.
Duas figuras de que gosto e que foram verdadeiros líderes: Abraham Lincoln e Winston Churchill. Lincoln era presidente dos EUA, tentou e não conseguiu evitar uma guerra motivada por Estados americanos que não queriam acabar com a escravidão. A Guerra Civil americana opôs o norte ao sul. O norte, liderado por Lincoln, saiu vencedor. Por isso, acabou morto, durante apresentação de teatro, com um tiro disparado por John Wilkes Booth, um maluco sulista, defensor da escravidão, que alimentava um ódio visceral pelo presidente.
Churchill era a pessoa certa na hora certa. Com sua insistência e clarividência, conseguiu mobilizar britânicos e convenceu o presidente Franklin Roosevelt a envolver os americanos e derrotar o nazismo de Adolf Hitler. Clarividência porque, antes do nazismo, Churchill previu que a Europa viveria outra guerra (depois da Primeira). Quando o nazismo chegou ao poder, em 1933, Churchill foi o primeiro político a dizer que Hitler era um ser “vil”. Quando os britânicos mais sofriam com as bombas despejadas pelos aviões nazistas Messersmith, Churchill visitou os locais destruídos em Londres e mobilizou os britânicos com discursos históricos pelas ondas da rádio BBC. Assumiu o cargo de primeiro-ministro no lugar de Neville Chamberlain, um entusiasta de política de apaziguamento com os alemães.
Poderia recomendar vários livros para entender melhor essas duas figuras, mas fico com dois bons: Estas Verdades, de Jill Lepore, sobre Lincoln, e Churchill: Caminhando com o destino, do historiador e político Andrew Roberts. Uma acalentada biografia de fã, mas sem poupar críticas e baseada em farta documentação. Churchill era um perdulário e beberrão, que adorava charutos. A sua vida pregressa era cercada de polêmicas, como os erros de avaliação em batalhas, episódios pelos quais ele nunca se perdoou. No entanto, acertou muito mais do que errou.
Dois grandes líderes em seus tempos, dois grandes políticos. Sei bem olhar o copo e avaliar se está cheio ou meio cheio. A vocação do brasileiro pela idolatria é questionável e torna míope nossa visão sobre políticos. Em seus feitos, embora já tenham deixado este plano existencial, Lincoln e Churchill serão sempre lembrados. E, pelo que fizeram, me sinto à vontade para admirá-los.