Confirmada a veracidade do áudio de Augusto Nardes comentando a situação do Brasil — a mim, nunca restaram dúvida da veracidade, conheço Augusto Nardes desde a época de deputado estadual —, será grande a humilhação aos tribunais.
Mas eles parecem não se incomodar. Em 2016, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) fizeram uma devassa no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) prendendo o presidente da Corte e mais três conselheiros. Internamente, nada aconteceu para mudar essa realidade.
As indicações políticas aos tribunais são nocivas para o julgamento de processos. Como essas indicações são um método antigo, não há muito questionamento público. Mas político não é técnico.
Existem inúmeros técnicos capazes nos tribunais — muito mais capazes do que políticos — para desempenhar esse papel. Político tem que permanecer no lugar para o qual foi eleito. No caso do ministro Nardes, ironia: a indicação dele se deu em 2005, em pleno governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas cabia ao PP, partido de Nardes, a indicação.
Nada pode ser menos técnico e retrógrado na política do que dar ao partido a primazia de indicação para um cargo. Nardes e Lula são grandes, que se entendam. Lula, justamente o que Nardes lamenta no áudio que tenha sido eleito.
No site do TCU, Augusto Nardes aparece com a seguinte mensagem: "…desempenhando com independência (…), cumprindo e fazendo cumprir a Constituição Federal e as leis da Nação, notadamente no que diz respeito à fiscalização e ao controle externo dos recursos públicos de competência da União".
Ao ministro, uma lembrança: "Cumprir a Constituição" significa respeitar o resultado da eleição e a preferência de mais de 50% dos eleitores contrários a sua preferência. Augusto Nardes, como cidadão, pode ter a opinião que quiser sobre política. O ministro, porém, que vai julgar processos, precisa ser isento. Nardes é o exemplo acabado de que as indicações não podem ser políticas.