Um impasse à última hora, quando as negociações estavam prestes a serem concluídas, impediu nesta semana o desfecho de um acordo histórico sobre o caso João Alberto, morto por seguranças do Carrefour em novembro passado. As negociações começaram há seis meses e estavam prestes a serem terminadas.
A etapa mais complexa até agora já havia sido superada: a construção de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que tem o envolvimento de todas as partes interessadas no caso. Envolve autoridades como Ministério Público (MP-RS), Defensoria Pública (DPE-RS) e Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), a empresa, entidades que representam o movimento negro e familiares.
O segundo ponto mais delicado, o valor a ser investido pelo Carrefour em ações de contrapartida a todas as possíveis ações judiciais que poderia enfrentar no âmbito cível também foi acordado — o Carrefour concordou em desembolsar R$ 120 milhões em ações que vão de indenização a familiares da vítima a iniciativas de combate ao racismo. Um promotor que acompanha as discussões elogiou a disposição da empresa e atesta que nunca houve um acordo semelhante na história das negociações corporativas.
No último encontro entre as partes, na quarta-feira (9), autoridades se reuniram dando como certo um desfecho naquela dia. Mas uma das partes, a ONG Educafro, sediada em São Paulo e que foi chamada para representar o movimento negro, levantou o tema dos honorários para os advogados da entidade. Até então, para autoridades e empresa, esse aspecto não tinha sido alvo de impasse que pudesse inviabilizar a assinatura do acordo. Mesmo sob a chance de participar de um acerto vultoso para a causa e com disposição da empresa de desembolsar o montante de R$ 120 milhões, a entidade preferiu resistir ao acordo.
Diante disso, a promotoria resolveu interromper as negociações. Procurada, a promotora que lidera o TAC, Gisele Monteiro, preferiu não comentar o assunto até que haja acordo. O Carrefour emitiu uma nota defendendo as negociações e reforçando que a ideia de que o acordo faz parte de uma luta antirracista passou a ser bandeira da empresa.