Prepare-se: dificilmente fugiremos de uma nova CPMF. Por enquanto, trata-se de um debate com sérias intenções do governo. Se convencer o Congresso, o novo imposto passa. Depende de um longo caminho, com convencimento do centrão, o mais novo amigo do governo Bolsonaro.
Mas a narrativa está pronta. É só um "microimposto digital sobre transações financeiras", dizem integrantes do governo, sem completar que a maioria das nossas atividades se dá no campo virtual.
Estima-se que a arrecadação será parecida ou até maior do que o volume da antiga CPMF, extinta há 13 anos. Em contrapartida ao novo imposto, o governo promete desonerar a folha de pagamento, um compromisso desde a campanha eleitoral. Já a CPMF nunca foi promessa ou instrumento de contrapartida. Também era promessa de campanha um amplo programa de privatizações.
Em agosto de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro veio ao Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, se reuniu com dezenas de empresários no auditório do Hotel Sheraton. A platéia ouviu dele o seguinte: "No primeiro ano de governo, vou privatizar 50 estatais". Aplausos.
Um ano e 7 meses depois de assumir, o governo Bolsonaro não só não privatizou nada como parece ter sentado em cima da proposta de reduzir o tamanho do Estado para torná-lo mais eficiente. Em dezembro do ano passado, técnicos do Ministério da Economia tinham pronta uma proposta de reforma administrativa. Pela avaliação do agora ex-responsável pela proposta, Paulo Uebel, assim que o Congresso retomasse os trabalhos, em fevereiro deste ano, a reforma entraria em debate. Nada até agora.
Mas a CPMF, a mais ampla, rápida e eficiente forma de taxar a população, está no topo das prioridades do governo. Neste aspecto, nada de novo governo no poder central.