Num Estado que não consegue pagar em dia os salários de professores e policiais, os gastos excessivos de outros setores do serviço público escancaram distorções inexplicáveis. É sempre bom lembrar que o dinheiro público usado para a folha de pagamento do brigadiano, por exemplo, tem origem no mesmo cofre de onde sai verba para diárias do Tribunal de Contas do Estado.
A análise de documentos feita pelo repórter Giovani Grizotti mostra que conselheiros gastaram apenas com diárias para viagens cerca de R$ 2 milhões em 2019. Nem de longe resolve o problema financeiro do Estado. Mas é simbólico. Um conselheiro em viagem de quatro dias pela Argentina foi indenizado em R$ 7,3 mil. Para efeito de comparação, é mais do que o dobro do salário de um professor estadual.
Não é exagerado fazer essas comparações num momento de necessidade de ampla revisão de despesas. Por que um conselheiro precisa viajar tanto? A reportagem também indica que membros da Corte apresentam despesas inferiores ao teto da diária. Por que, então, o TCE não muda a regra, estipula um teto e ressarce apenas aquilo que foi, de fato, gasto. A análise das notas indica que muitas vezes o conselheiro gasta bem menos do que o valor da diária. Prova de que a referência do teto pode ser menor. Se o pente fino cair sobre o serviço público, não apenas no Executivo, mais gastos incompatíveis com a realidade atual do Estado certamente poderão ser revistos.