Se os pais soubessem tudo o que se passa no celular dos filhos quando eles não estão por perto, e mesmo quando estão, talvez não conseguissem pregar o olho à noite. Violência, pornografia, fóruns de debates em que assuntos como suicídio e anorexia são tratados de forma irresponsável e perigosa – além de tudo aquilo que a maioria de nós, adultos, nem sequer imagina que aconteça na rede – tornaram-se territórios tão acessíveis para crianças e adolescentes quanto a pracinha do bairro.
Decisão do Museu de Arte de São Paulo (Masp) de proibir a entrada de menores de 18 anos, mesmo acompanhados dos responsáveis, na recém inaugurada exposição Histórias da Sexualidade, parece não apenas covarde como inconstitucional.
Diante desse poço de águas turvas onde os filhos passam boa parte do dia mergulhados, sem boias de segurança ou uma noção muito clara dos riscos a que estão expostos, os adultos podem encarar o problema de frente, deixando claro que estão na área, atentos e disponíveis, ou podem fingir que o maior perigo na internet é o vírus de computador.
Com essa janela aberta para experiências virtuais de toda natureza ao alcance da mão a qualquer momento, chega a ser cômico que tanta atenção esteja sendo destinada ao conteúdo disponível nos museus brasileiros – locais muito raramente frequentados por crianças e adolescentes que não tenham sido arrastados para lá por insistência dos pais ou exigência da escola.
A decisão do Museu de Arte de São Paulo (Masp) de proibir a entrada de menores de 18 anos, mesmo acompanhados dos responsáveis, na recém inaugurada exposição Histórias da Sexualidade – na esteira do neoconservadorismo extemporâneo que tem contaminado o debate público desde o cancelamento da exposição Queermuseu, apequenando instituições culturais até então respeitadas – parece não apenas covarde como inconstitucional.
Desde a Constituição de 1988, a classificação etária de obras de arte é uma sugestão do Estado, que pode ou não ser acatada pelos pais. Concedo que muitas famílias prefiram ver os adolescentes imersos nas águas profundas da internet – aquele lugar onde nada do que acontece tem vigilância ou classificação indicativa – a dar-se ao trabalho de acompanhá-los até um museu para falar, por exemplo, sobre sexo, nudez e arte, mas considero francamente abusivo que outros pais sejam impedidos de decidir o que é adequado ou não para os seus filhos. Tem só um nome para isso: censura.