Primeiro foi Claudia Leitte, em junho, confessando que era "brincadeirinha" a notícia de que iria abrir mão do sobrenome. "Eu tô cada dia mais bagunceira, né? Mas vamos lá pessoal: eu cortei o Leitte do meu nome para mostrar que é exatamente isso que muita gente faz sem precisar. Então fiquem ligados", publicou em seu perfil pessoal, junto com o comercial de um suplemento para pessoas com intolerância à lactose. Em setembro, foi o Luan Santana, anunciando que ia trocar o sertanejo pelo metal. Desta vez, a cascata havia sido encomendada por uma marca de chocolate: "Heavy Metal?! Ahhh, era fome, galera! Eu tava PERDIDÃO! Agora matei a minha fome! Galera do Metalllll, não foi dessa vez que me rendi".
A julgar pela reação nas redes sociais, a maior parte das pessoas, como eu, fica irritada com pegadinhas publicitárias. Mas como publicitários não são bobos, nem loucos, é provável que campanhas desse tipo atinjam o efeito esperado: repercussão nas redes para o anunciante, mesmo que causando algum tipo de desconforto inicial. Ou seja, em breve poderemos topar com um Caetano da Pick-Up Veloz ou um Chico Buarque do Condomínio em Miami. (Exemplos meramente ilustrativos para efeitos de ironia, bem entendido, já que nem todos os artistas estão com os nomes à venda na prateleira ou sentem-se confortáveis mentindo para os fãs, mesmo que por algumas horas.)
Jogadas de marketing são mais velhas do que as calças de tergal e o xampu colorama. Em 2006, por exemplo, a modelo Karina Bacchi deixou-se fotografar pela revista Caras aos beijos com o ator José Valien, o Baixinho da Kaiser – namoro que (surpresa!) durou apenas até o próximo comercial de cerveja. Mas se há 10 anos a estratégia era apenas de mau gosto, hoje se tornou também redundante. Vivemos em um ambiente em que a mentira e as fake news contaminaram de tal forma o modo como as pessoas se relacionam com as notícias, com a política e umas com as outras, que perseguir a verdade parece ter deixado de ser um valor em si. Gente ingênua ou mal-intencionada abastece as redes sociais com versões falsas dos fatos e manipulações gráficas grosseiras, e todo esse chorume é servido diariamente para quem não têm tempo, ou ferramentas, para identificar as matérias próprias para consumo em meio a tanto lixo tóxico.
Usar a mentira como "jogada de marketing", em 2017, é mais ou menos como vender passeio de barco em casa de afogado.