Não existe ninguém mais propenso a nos destruir do que a pessoa com quem nos casamos.
A frase está no livro O Curso do Amor – curso podendo ser entendido aqui como caminho, trajetória, mas também como aula ou classe. Em inglês, o título do novo livro do filósofo suíço Alain de Botton, que chegou este mês ao Brasil, sugere um terceiro sentido, graças à semelhança entre as palavras course ("curso") e curse ("maldição"). Seria o amor, ou mais exatamente o casamento, uma maldição?
Sim e não, sugere o filósofo, célebre por analisar temas da vida cotidiana. Sim, se você casou imaginando que seria capaz de congelar no tempo não apenas duas pessoas (você e o ser amado, no momento em que se apaixonaram), mas um sentimento, a paixão, que costuma se alimentar da imaginação tanto quanto o fogo se alimenta do ar.
Para algo com tanto potencial para bagunçar nosso coreto, somos bastante inconsequentes nas nossas escolhas amorosas. Não sabemos (e em geral nem queremos saber) o que se passa na casa dos outros, o que nos leva a imaginar que a insatisfação conjugal, quando existe, se deve a nossa incapacidade para escolhas sensatas e não aos princípios básicos do casamento: convivência, conflito, negociação. Isso porque histórias de amor que não são especialmente abençoadas ou tragicamente infelizes não costumam render romances ou notícias no jornal. Com O Curso do Amor, Botton tenta preencher essa lacuna. Seus personagens, Rabih e Kirsten, não têm nada de especial, a não ser o fato de serem um típico casal de classe média do século 21.
Parte romance, parte reflexão filosófica, o livro examina o amor dos dois como um entomologista observaria uma nova espécie de inseto. Por que nos apaixonamos por algumas pessoas e não por outras? O que buscamos nos ser amado além de companhia para assistir à Netflix? Como é possível aceitar as esquisitices de outra pessoa sem enlouquecer ou sair correndo porta afora? Como ser romântico e se preocupar com dinheiro e filhos ao mesmo tempo?
Houve um tempo em que os casamentos eram decididos por interesses práticos e imediatos: dinheiro, propriedades, alianças familiares. Mesmo quando as escolhas românticas substituíram os casamentos arranjados, muita gente ainda permanecia em relações fracassadas por conveniência social. Nos dias de hoje, em principio, só fica casado quem quer. E cada vez mais pessoas querem – muitas vezes. Para Alan de Botton, o amor é mais habilidade do que entusiasmo.