Nada, às vezes nem mesmo uma morte na família, é tão disruptivo quanto uma separação – evento que afeta não apenas a estabilidade emocional, mas o bolso, o teto e quase todos os outros aspectos práticos e subjetivos das vidas de duas pessoas. Depois dos filhos e de outros diretamente envolvidos, casais próximos costumam ser os mais impactados. Quando um casal se separa, é comum medir o próprio casamento em relação ao outro que terminou – e, em alguns casos, se perguntar o que, no fim das contas, distingue uma relação em crise de outra que já acabou.
A separação de casais famosos tem um efeito desestabilizador parecido. Mais ainda se o ex-casal inspirava algum tipo de idealização romântica. "Acabou o amor", mancheteou um jornal popular na semana passada, resumindo em uma única frase uma possível causa para a separação de Angelina Jolie e Brad Pitt (o fim do amor) e a reação mais comum dos fãs diante da notícia: se não funcionou para eles, não funciona para mais ninguém.
Um livro do qual eu gosto muito, Zen e a arte da manutenção de motocicletas (1974), do autor americano Robert M. Pirsig, defende que existem basicamente dois modos de encarar o mundo.
O perfil "clássico" busca entender a mecânica das coisas – as estruturas que fazem, por exemplo, o motor de uma motocicleta funcionar. O perfil "romântico" seria aquele influenciado mais fortemente pelas aparências e pelas emoções – como a sensação de liberdade que um motociclista experimenta pilotando em uma estrada vazia.
O amor é aquele terreno em que até o mais clássico dos temperamentos se deixa levar por emoções e fantasias – porque, obviamente, é a ilusão romântica que torna as paixões possíveis. Mas, assim como quem observa uma motocicleta estacionada sabe muito pouco, ou nada, sobre o estado do seu motor, quem olha de fora um casal (famoso ou não) nem sempre percebe, à primeira vista, o que faz aquele relacionamento funcionar ou não. Ou seja: pelo menos em relação aos casamentos alheios, convém ser um pouco menos romântico com o amor.